Elas existem e lideram: Karina Santos, a voz da regulação e da transição energética no Brasil
- EnergyChannel Brasil
- 11 de jul.
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No Energy Women Talks, a advogada e especialista em energia Karina Santos compartilha sua trajetória no mercado de energia, os desafios da regulação, os caminhos para o futuro do Setor Elétrico Brasileiro e a força das mulheres nesse processo.
Por EnergyChannel – São Paulo (SP)
No mais recente episódio do Energy Women Talks, série de entrevistas conduzida por Zilda Costa no EnergyChannel, a convidada da vez foi Karina Santos — advogada, mãe, pesquisadora e uma das maiores referências em regulação do setor elétrico no Brasil.
Com uma trajetória que atravessa universidades renomadas como a PUC-SP, FGV, London School of Economics (LSE) e CCEE/USP, Karina construiu uma carreira sólida em um dos segmentos mais técnicos e masculinos da economia brasileira: o mercado de energia.
“Eu entrei no setor por acaso”, relembra Karina. “Fui convidada ainda na faculdade para trabalhar em um escritório boutique especializado em direito da energia. Desde então, nunca mais saí.”
O acaso virou missão, e a missão se transformou em especialização: ela soma mais de 10 anos de estudos e prática jurídica focada em energia, atuando com temas como riscos na comercialização, abertura do mercado livre, armazenamento de energia e, mais recentemente, o controverso curtailment — ou limitação da geração de energia por restrições operacionais.
O desafio da regulação em um setor em transição
Durante a entrevista, Karina trouxe à tona a complexidade crescente do Setor Elétrico Brasileiro. Segundo ela, a inserção maciça de fontes renováveis intermitentes (como solar e eólica), aliada à deficitária infraestrutura de transmissão e à cada vez mais reduzida flexibilidade sistêmica criou um cenário desafiador à operação do setor pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e para os próprios geradores renováveis.
“Curtailment não é só uma palavra técnica. É o nome de um problema real que já afeta centenas de projetos de geração renovável. E a regulação atual não trata todos os casos como passíveis de indenização. Isso tem gerado uma onda de judicializações.”
Armazenamento e flexibilidade: o que falta para o futuro?
Karina defende que o armazenamento e a gestão inteligente de energia e potência são peças-chave para equilibrar o futuro do setor, que será mais distribuído, mais digital e mais dinâmico.
“A lógica setorial mudou. Não dá mais para pensar só em energia. Potência, flexibilidade e digitalização serão determinantes para a segurança energética”, explica. “E o futuro é, sem dúvida, distribuído. Grandes centrais não darão conta sozinhas da complexidade que estamos vendo surgir.”
DSO, agregadores e novos agentes: o sistema está preparado?
Um dos temas mais debatidos no episódio foi a criação do DSO (Operador de Sistemas de Distribuição), do Supridor de Última Instância (SUI) e dos agregadores, figuras ainda indefinidas na regulação brasileira, mas essenciais para o controle mais capilarizado da operação setorial e para a abertura total do mercado, respectivamente.
“Precisamos definir claramente quem será o DSO, quem será o Supridor de Última Instância e os agregadores, e como eles serão remunerados. Essa nova arquitetura exige um olhar regulatório isento, baseado em sinais econômicos corretos. Sem isso, perdemos a confiança do investidor e atrasamos a modernização do sistema.”
Educação contínua, maternidade e o papel das mulheres
Ao longo da conversa, Zilda Costa destacou outro aspecto inspirador da trajetória de Karina: sua capacidade de conciliar uma agenda intensa de estudos e atuação profissional com a maternidade. “É uma loucura. Já pensei em desistir muitas vezes”, admite. “Mas a gente vai fazendo. Uma hora por dia, um passo de cada vez. Garra é o que não falta.”
Karina também deixou um recado direto para as mulheres que atuam ou desejam atuar no setor energético:
“Não é uma disputa entre homens e mulheres. Mas nós podemos ocupar muito mais espaço do que ocupamos hoje. E precisamos nos apoiar, nos fortalecer e continuar buscando conhecimento. Esse é o nosso diferencial.”
Conclusão: o futuro do setor é plural
A entrevista de Karina Santos é mais do que uma aula sobre os dilemas técnicos da energia. É um manifesto sobre o protagonismo feminino na construção de um setor mais justo, resiliente e inovador.
O Energy Women Talks segue abrindo espaço para essas vozes transformadoras. Como disse Zilda ao final: “Elas existem. E estão liderando a transição energética do Brasil.”
Parabéns aos envolvidos em especial Zilda
Meus parabéns amiga Zilda, você é incrível.