INVESTIMENTOS GLOBAIS EM ENERGIA ATINGIRÃO RECORDE DE US$ 3,3 TRILHÕES EM 2025, COM ENERGIAS LIMPAS LIDERANDO A EXPANSÃO
- EnergyChannel Brasil

- 5 de jun.
- 7 min de leitura
Relatório da AIE aponta que tecnologias de baixa emissão receberão o dobro dos recursos destinados aos combustíveis fósseis, em meio a preocupações com segurança energética e incertezas econômicas
Por Equipe EnergyChannel

Em um cenário global marcado por tensões geopolíticas e incertezas econômicas, o setor energético demonstra resiliência e continua sua transformação acelerada. Segundo dados divulgados pela Agência Internacional de Energia (AIE) em seu mais recente relatório "World Energy Investment", os investimentos globais em energia devem atingir a marca histórica de US$ 3,3 trilhões em 2025, representando um crescimento de 2% em termos reais em comparação com 2024.
O dado mais significativo deste panorama é a consolidação da tendência de predominância das tecnologias limpas no direcionamento dos recursos. Do montante total previsto, aproximadamente US$ 2,2 trilhões serão destinados a energias renováveis, nuclear, redes elétricas, armazenamento, combustíveis de baixa emissão, eficiência energética e eletrificação. Este valor é praticamente o dobro dos US$ 1,1 trilhão que serão alocados para petróleo, gás natural e carvão.
SEGURANÇA ENERGÉTICA COMO MOTOR DE INVESTIMENTOS
Fatih Birol, diretor-executivo da AIE, destacou que a segurança energética emerge como um fator determinante para o crescimento dos investimentos globais. "Em meio às incertezas geopolíticas e econômicas que obscurecem as perspectivas para o mundo da energia, vemos a segurança energética surgindo como um impulsionador fundamental do crescimento do investimento global", afirmou Birol.
O executivo observou ainda que, embora o cenário econômico e comercial em rápida evolução tenha levado alguns investidores a adotarem uma abordagem de "esperar para ver" em relação a novos projetos energéticos, a maioria dos empreendimentos existentes não sofreu impactos significativos até o momento.
ENERGIA SOLAR LIDERA INVESTIMENTOS SETORIAIS
Entre as tecnologias de energia limpa, a solar fotovoltaica continua a atrair o maior volume de capital, com previsão de investimentos na ordem de US$ 450 bilhões em 2025. Este montante fará da energia solar o maior destino de investimentos em todo o setor energético global, superando qualquer segmento individual de combustíveis fósseis.
O relatório da AIE destaca que a competitividade de custos, a escalabilidade e a rapidez de implementação são fatores que mantêm a energia solar na liderança dos investimentos. A tecnologia tem se beneficiado de contínuas reduções de custos e ganhos de eficiência, além de políticas de apoio em diversos mercados.
ARMAZENAMENTO DE ENERGIA: CRESCIMENTO EXPRESSIVO
Em paralelo ao avanço da geração solar, os investimentos em sistemas de armazenamento de energia estão previstos para alcançar US$ 65 bilhões em 2025, um crescimento significativo em relação aos anos anteriores. Este aumento reflete a necessidade crescente de soluções para equilibrar a intermitência das fontes renováveis e garantir a estabilidade das redes elétricas.
"O crescimento exponencial da capacidade de armazenamento é fundamental para viabilizar a integração massiva de fontes renováveis variáveis como solar e eólica", explica Paulo Martins, especialista em transição energética consultado pelo EnergyChannel. "Estamos observando não apenas o aumento dos investimentos em baterias convencionais de íons de lítio, mas também em tecnologias emergentes como armazenamento de longa duração e soluções híbridas."
ENERGIA NUCLEAR RETOMA PROTAGONISMO
Após anos de estagnação em várias regiões do mundo, a energia nuclear volta a ganhar espaço na matriz de investimentos globais. O relatório da AIE indica que os investimentos no setor nuclear estão sendo impulsionados por preocupações com segurança energética e pela necessidade de fontes de geração de baixo carbono que possam fornecer energia de base.
"O nuclear está experimentando um renascimento estratégico, especialmente em economias que buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis importados e, ao mesmo tempo, garantir uma fonte confiável de energia de baixa emissão", analisa Carla Mendes, especialista em política energética. "Além das tecnologias convencionais, vemos um interesse crescente em reatores modulares pequenos (SMRs), que prometem custos menores e maior flexibilidade de implantação."
Países como China, Índia, Reino Unido e França estão liderando este movimento de expansão nuclear, enquanto nos Estados Unidos há esforços para estender a vida útil das usinas existentes e desenvolver novas tecnologias.
ENERGIA EÓLICA ENFRENTA DESAFIOS
Embora continue sendo um componente essencial da transição energética, o setor eólico enfrenta desafios que têm moderado o ritmo de investimentos. Problemas na cadeia de suprimentos, aumento de custos e complexidades nos processos de licenciamento têm afetado o desenvolvimento de novos projetos, especialmente no segmento offshore.
"O setor eólico está passando por um período de ajuste após anos de crescimento acelerado", comenta Roberto Almeida, analista do setor de energias renováveis. "As pressões inflacionárias e os gargalos logísticos têm comprimido as margens dos fabricantes de turbinas, mas a demanda fundamental por energia eólica permanece robusta, especialmente considerando as metas de descarbonização de longo prazo."
Apesar desses desafios, os investimentos em energia eólica continuam significativos, com expectativa de recuperação à medida que os problemas da cadeia de suprimentos sejam resolvidos e novas políticas de apoio sejam implementadas em mercados-chave.
COMBUSTÍVEIS DE BAIXA EMISSÃO: HIDROGÊNIO EM DESTAQUE
Os investimentos em combustíveis de baixa emissão devem atingir um novo recorde em 2025, ultrapassando US$ 30 bilhões, com o hidrogênio desempenhando um papel de destaque neste segmento. Segundo dados compilados pela H2-View, os investimentos específicos em hidrogênio devem alcançar US$ 8 bilhões em 2025, quase o dobro do valor registrado em 2024.
"O hidrogênio está emergindo como uma peça-chave no quebra-cabeça da descarbonização, especialmente para setores difíceis de eletrificar como indústria pesada, transporte marítimo e aviação", explica Fernando Costa, especialista em transição energética. "Embora ainda estejamos nos estágios iniciais do desenvolvimento da economia do hidrogênio, os investimentos crescentes sinalizam confiança no potencial de longo prazo desta tecnologia."
O relatório da AIE destaca, no entanto, que o setor de combustíveis de baixa emissão ainda representa uma pequena parcela do investimento total em energia e permanece altamente dependente de políticas e regulamentações de apoio. A incerteza política continua a pesar sobre as decisões finais de investimento para muitos projetos de hidrogênio e captura de carbono.
DECLÍNIO NOS INVESTIMENTOS EM COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
Em contraste com o crescimento dos investimentos em energia limpa, o relatório da AIE prevê uma queda de aproximadamente 2% nos investimentos em fornecimento de combustíveis fósseis em 2025 – o primeiro declínio desde 2020. Os investimentos em exploração e produção de petróleo e gás devem cair cerca de 4%, para pouco menos de US$ 570 bilhões, liderados por uma queda de 6% nos gastos com petróleo, para aproximadamente US$ 420 bilhões.
"A queda acentuada nos preços do petróleo, o aumento dos custos operacionais, os impactos das tarifas e as preocupações com potencial excesso de oferta levaram muitas empresas a revisar seus planos de investimento", aponta o relatório da AIE.
Os investimentos em fornecimento de carvão devem crescer novamente em 2025, mas em ritmo mais lento – aumento de 4% em relação ao ano anterior, comparado com um crescimento médio anual de 6% nos últimos cinco anos. Estes investimentos são impulsionados principalmente por China e Índia.
DISPARIDADES REGIONAIS NOS INVESTIMENTOS
O relatório da AIE destaca significativas disparidades regionais nos padrões de investimento em energia. A China permanece como o maior investidor global "por uma ampla margem", com sua participação no investimento global em energia limpa aumentando de um quarto há uma década para quase um terço atualmente.
Nos Estados Unidos, os investimentos em renováveis e combustíveis de baixa emissão "devem se estabilizar à medida que políticas de apoio são reduzidas", segundo a AIE. A agência observou que os produtores de petróleo de xisto dos EUA estão particularmente desafiados pela queda nos preços do petróleo, e que os investimentos em exploração e produção de petróleo e gás "estão gravitando em direção a grandes detentores de recursos no Oriente Médio".
REDES ELÉTRICAS: INVESTIMENTOS RECORDES, MAS AINDA INSUFICIENTES
Um aspecto crítico destacado pelo relatório é o investimento em infraestrutura de redes elétricas, que deve superar a marca recorde de US$ 400 bilhões em 2025. Apesar deste montante expressivo, a AIE alerta que os investimentos em redes "estão lutando para acompanhar o aumento na demanda por energia elétrica".
"A modernização e expansão das redes elétricas representa um dos maiores gargalos para a transição energética global", avalia Luísa Ferreira, especialista em sistemas elétricos. "À medida que avançamos para um sistema energético mais eletrificado e descentralizado, com milhões de novos pontos de geração distribuída e consumo inteligente, as redes precisam se tornar mais robustas, flexíveis e digitalizadas."
A insuficiência de investimentos em redes pode limitar a capacidade de integração de novas fontes renováveis e comprometer a confiabilidade do fornecimento de energia em várias regiões do mundo.
PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS FUTURAS
O panorama de investimentos para 2025 reflete um setor energético em profunda transformação, impulsionado por múltiplos fatores que vão além da descarbonização. A segurança energética, a competitividade econômica e as políticas industriais estão desempenhando papéis cada vez mais importantes nas decisões de alocação de capital.
"Estamos testemunhando não apenas uma transição energética, mas uma reconfiguração completa do sistema energético global", analisa Marcos Oliveira, economista especializado em energia. "Os US$ 3,3 trilhões de investimentos previstos para 2025 representam não apenas um recorde em termos de volume, mas também uma mudança qualitativa na direção dos fluxos de capital."
Para os próximos anos, especialistas preveem:
1. Aceleração da eletrificação: Com o aumento dos investimentos em geração renovável e redes, a eletricidade deve consolidar sua posição como o vetor energético dominante do século XXI.
2. Convergência tecnológica: Integração crescente entre diferentes tecnologias, como sistemas híbridos de geração renovável com armazenamento e soluções de flexibilidade baseadas em hidrogênio.
3. Digitalização intensiva: Aumento dos investimentos em tecnologias digitais para otimizar a operação de ativos energéticos e gerenciar sistemas cada vez mais complexos e descentralizados.
4. Localização de cadeias de valor: Continuidade da tendência de regionalização das cadeias de suprimentos de tecnologias energéticas, impulsionada por políticas industriais e preocupações com segurança.
5. Financiamento inovador: Desenvolvimento de novos mecanismos financeiros para mobilizar capital para projetos de energia limpa em mercados emergentes e economias em desenvolvimento.
"O desafio para os próximos anos não será apenas manter o volume de investimentos, mas garantir que estes recursos sejam alocados de forma eficiente e equitativa", conclui Oliveira. "Isso exigirá coordenação entre políticas públicas, estratégias corporativas e inovações financeiras em uma escala sem precedentes."
INVESTIMENTOS GLOBAIS EM ENERGIA ATINGIRÃO RECORDE DE US$ 3,3 TRILHÕES EM 2025, COM ENERGIAS LIMPAS LIDERANDO A EXPANSÃO











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