Marketing e Armazenamento de Energia: como posicionar valor no modelo Energy as a Service
- Tatiane Carolina
- 7 de jul.
- 5 min de leitura
A transformação digital aliada à transição energética vem impulsionando modelos de negócio baseados em recorrência. No entanto, o sucesso do modelo não se apoia apenas na tecnologia, mas na capacidade de comunicar valor com precisão, clareza e sofisticação, sendo aqui que entra o marketing estratégico.

No modelo de negócio EaaS (Energy as a Service), os clientes pagam por um serviço de energia sem ter que fazer nenhum investimento inicial. O tamanho do mercado global deste modelo foi estimado em US$ 77,56 milhões em 2023 e a projeção é de que cresça US$ 208,20 milhões até 2032, apresentando uma taxa de crescimento CAGR (Compound Annual Growth Rate) de 11,75% durante o período previsto, segundo a Fortune Business Insights.

À medida que o modelo cresce no mundo, as provedoras de Energy as a Service não só fornecem eletricidade, mas também outros serviços correlacionados, desde a consultoria até a instalação da infraestrutura e ferramenta para o controle de consumo. Todo esse crescimento é impulsionado por fatores como a digitalização, políticas de descarbonização e a busca por soluções energéticas mais resilientes e economicamente previsíveis.
Em meio a esse cenário, o marketing não pode mais ser um exercício estético ou exclusivamente promocional: ele deve estar ancorado nas decisões estruturais do negócio. Na imagem abaixo, desenvolvi um exemplo aplicado ao modelo do negócio:

Ao migrarmos essa visão para o setor elétrico, o posicionamento de soluções como armazenamento de energia precisam ir além da ficha técnica. A construção de marca precisa reforçar atributos como resiliência energética, autonomia operacional e controle inteligente, que são critérios decisivos. Esses atributos, embora derivados da performance técnica dos sistemas, devem ser traduzidos em promessas claras e verificáveis de valor, conforme demonstrado na imagem abaixo:

Na imagem acima, é possível ver outro exemplo desenvolvido, incorporando o marketing ao modelo de negócio, identificando como é possível correlacioná-los e como isso poderia impactar na receita do negócio.
Neste contexto, é possível interpretarmos que o branding técnico aplicado ao setor elétrico deve construir narrativas que conectem as capacidade do sistema de armazenamento com benefícios operacionais mensuráveis: como a continuidade em caso de falhas na rede, o ganho de previsibilidade no consumo, ou a possibilidade de operar em peak shaving. O preço de uma solução com baterias só é justificado quando a proposta de valor percebida excede a simples comparação de custo-benefício com soluções convencionais.
Em mercados técnicos e de complexidade de entendimento para o público alvo, o canal de comunicação não é neutro: ele molda a credibilidade da mensagem e influencia diretamente na confiança do decisor. Para isso, vale aplicar o The P.O.E.T.I.C Framework, um modelo robusto para mapear os canais de marketing externos que suportam o posicionamento estratégico da marca. Quando bem mapeados, esses canais potencializam a percepção de atributos. Paid Media: Em mercados emergentes ou com baixa maturidade por parte do consumidor, é essencial usar canais pagos para criar awareness e explicar o diferencial da solução. Por exemplo, campanhas em mídia programática com branded content técnico em portais ou ações com influenciadores do setor elétrico que fazem reviews de soluções, ajudam a gerar visibilidade com autoridade.
Owned Media: Os canais proprietários são essenciais para a sustentação da narrativa técnica ao longo do funil. Sites com simuladores de retorno sobre o investimento ou com perspectivas de economia com as soluções de armazenamento, newsletter com dados de monitoramento em tempo real e blogs com artigos de engenharia aplicada reforçam a credibilidade e educam o cliente. Empresas que oferecem EaaS com bateria devem transformar seus canais em centros de conhecimento, elevando a proposta de valor além da venda.
Earned Media: Quando a solução entrega valor real, a própria experiência do cliente se transforma em ativo de marketing. Cases publicados em veículos especializados, reviews espontâneos e menções funcionam como validação social. Um case premiado de uma empresa agroindustrial que evitou perdas com falhas na rede, graças ao sistema de backup inteligente, é muito mais poderoso do que qualquer anúncio.
Teamwork: No modelo EaaS, parcerias são estratégicas. Collabs entre integradoras e fabricantes de baterias, ou entre fintechs de energia e empresas de engenharia, criam canais bilaterais onde marcas se impulsionam mutuamente. Um bom exemplo seria uma ação conjunta entre uma empresa de armazenamento e uma cooperativa agrícola para promover soluções com opções de pagamento diversas como, por exemplo, por safra, veiculada em feiras do agro.
Interactive: A experiência com a solução deve ser vivida, não apenas contada. Palestras técnicas em conferências do setor, visitas guiadas a instalações com sistemas híbridos, ou ativações em eventos com simulações de economia em tempo real são formas interativas de tangibilizar a promessa da marca. O onboarding dos clientes também pode ser transformado em canal de marketing, quando se apresenta com clareza o impacto financeiro e operacional da bateria ao longo do tempo.
Community: Por fim, as comunidades são o canal mais poderoso para consolidar a marca como referência no setor. Fóruns de integradores, grupos de Whatsapp com suporte técnico e programas de indicação entre empresas criam ambientes em que a solução circula organicamente entre pares. No caso do armazenamento, uma comunidade de usuários avançados pode inclusive influenciar o roadmap de desenvolvimento e criar defensores da marca a longo prazo. Ao aplicar o framework dentro do Marketing Canvas, conseguimos conectar canais, mensagens e atributos de marca de maneira integrada. Em vez de fragmentar a comunicação por departamento ou por campanha, o marketing passa a ser um sistema de sustentação da proposta de valor, ancorado no modelo de negócio de Energy as a Service.
O marketing não serve apenas para “vender mais”, não é sobre “panfletagem”, mas sobre ancorar a percepção de valor de um modelo de negócio que pode soar complexo ao público alvo. Isso exige repertório técnico, alinhamento com os frameworks estratégicos e uma compreensão profunda da cadeia de valor energético. A marca é o elo entre a proposta e a percepção e é por isso que, no Energy as a Service, branding e modelo de negócio devem caminhar juntos, sob a mesma arquitetura estratégica para gerar receita. Tatiane Carolina
Especialista em marketing e modelos de negócios no setor elétrico. Engenheira, MBA em Gerenciamento de Projetos e pós-graduanda em Comunicação Empresarial Transmídia pela ESPM, atua conectando engenharia e marketing no desenvolvimento de marcas, produtos e ecossistemas no setor de energia. CEO da Ello Moving e Host do podcast Boteco Solar.
Marketing e Armazenamento de Energia: como posicionar valor no modelo Energy as a Service
Excelente conteúdo!