O Brasil e suas oportunidades energéticas
- Eustaquio Sirolli
- há 5 minutos
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Por Eustaquio Sirolli
Faz um bom tempo que tenho a oportunidade de trabalhar com novas energias. Em 1984, a empresa para a qual trabalhava construiu um veículo a gás metano, precisamente um ônibus urbano, que foi cedido ao setor de motores da USP para rodar experimentalmente na referida universidade. Deste primeiro teste seguiu-se com a montagem de 3 veículos urbanos para rodarem pelo país nos locais onde havia metano.

Nesse contexto de provação de nova energia, uma sequência de montagem de veículos para oferta ao mercado foi feita, mas infelizmente as vendas não ocorreram e um lote expressivo ficou no pátio da montadora.
Essas informações estou compartilhando “de memória”, sem intenção de um resgate preciso no tempo, mas são como me lembro.
Já em 2018, tive a oportunidade de trabalhar com 4 caminhões chineses que operavam com metano líquido, LCH4, combustão no ciclo Otto, e as surpresas apareceram: boa performance, baixo ruido, freio motor muito bom, consumo adequado para as expectativas. Após um período de rodagem, o teste foi concluído e os resultados passados ao cliente para seguir no negócio com o fornecedor dos caminhões.
Nessa fase de testes dos caminhões, foi possível contatar o RCGI, Research Centre for Greenhouse Gas Innovation da USP, cujo contato foi feito com a Professora Doutora Dominique Mouette, para entender os andamentos acadêmicos de P&D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) e ver se as investigações empresariais teriam convergências ou divergências no tema. Também com um grupo de empresários do setor de ônibus, fizemos uma visita à unidade de produção de hidrogênio a partir do etanol, conceito desenvolvido pela brasileira Hytron, sendo o Dr. Gabriel Daniel Lopes um dos desenvolvedores desse processo. Fomos atendidos pela Professora Doutora Karen Louise
Mascarenhas e equipe, sendo o Professor Júlio Romano Meneghini o diretor do RCGI. Vale ressaltar que a estação de produção de hidrogênio do RCGI vai abastecer pelo menos 3 ônibus e carros da Toyota que usam essa fonte energética.
Na busca do conhecimento de novas fontes energéticas, com apelo em energias de fontes renováveis, chegamos ao etanol, que é o combustível “plantado” onde o Brasil se destaca. Com observações de experts no tema, obtive a seguinte linha técnica: é possível desenvolver um motor focado em usar somente o etanol na sua combustão e assim pode-se otimizar a queima para se obter um motor energeticamente falando muito próximo ao diesel, por exemplo. Fazê-lo sendo um flex dificulta a queima eficiente dos combustíveis envolvidos, tema a ser observado e acompanhado.
Nessa fase fiz para mim mesmo a seguinte pergunta: qual o novo energético a ser considerado? Assim acabei em contato com o IPEN, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, onde já havia feito o mestrado em Ciência dos Materiais. Agora com foco energético para propulsão veicular, os Professores Doutores Fabio Coral Fonseca e Elisabete Inacio Santiago me apresentaram o hidrogênio e células a combustível cujo centro de Pesquisa encontra-se dentro do IPEN na USP.
Por sugestão dos professores Fábio e Elisabete orientaram-me a fazer as matérias que poderiam ser usadas como créditos para mestrado, doutorado ou pelo menos nivelar conhecimento no tema.
As matérias foram:
- Célula a Combustível, ministrada pela professora Elisabete e Fábio
- Hidrogênio, pelo professor Vanderlei Bergamaschi e Jamil Ayoub
- Eletro-catalisadores, pelos professores Almir Oliveira e Rodrigo Brambilla
Esse conjunto de matérias foi importante para fundamentar entendimento nos artigos, papers e materiais relacionados ao tema hidrogênio/Fuel Cell. Aos interessados sugiro analisarem participação nesse curso, algo de vanguarda tecnológica.
Preciso externar minha surpresa com o time de professores e pesquisadores do IPEN focados em hidrogênio e Fuel Cell, bem como a receptividade na interlocução sobre essa energia que permite que as emissões sejam calor e vapor de água!
Como investigação sobre como obter o hidrogênio, fiz contato com a GAS FUTURO, representada pelo Rodrigo Bogcaz e Ricardo Barreira e sua parceira chinesa HOUPU, para obter detalhes sobre eletrolisadores e estações de abastecimento. Resumindo, é preciso aportar um capital expressivo para criar esse posto de abastecimento.
Faço esse histórico nominando os colaboradores, pois os contatos foram possíveis pelas pessoas e não pelas siglas das empresas.
Para não me alongar também tenho que mencionar a dedicação da Mônica Panik por sua curadoria no time da SAEH2 student challenge e seria muito injusto não externar esse fato.
Há muito a mencionar, mas gostaria de ressaltar a visita feita a Toyota com o time que o MSc. Camilo Adas da SAE, que coordenou, posteriormente com os professores e pesquisadores do IPEN, que contou com a presença da sua superintendente Professora Doutora Isolda Costa. Externo minha percepção da rodagem com o Mirai a hidrogênio, um “tapete voador”.
Fiz esse resgate histórico do envolvimento pessoal com novas fontes de energias, para fazer uma sugestão para o Brasil na questão do hidrogênio.
Direto ao tema: uma estação de abastecimento com hidrogênio a 350 bar, 700 bar e liquefeito, poderia ser disponibilizada em São Paulo e outra no Rio de Janeiro que tem uma distância de 450 km. Isso permitiria que empresas já com carros, caminhões e ônibus usando hidrogênio pudessem exercitar o uso dos veículos nesse novo mundo energético.
A Toyota tem o Mirai, Hyundai com o Nexo e com o caminhão XCIENT, a Daimler Tuck com o caminhão GenH2, que usa hidrogênio líquido. A Marcopolo, com seus ônibus a hidrogênio, também, ou seja, o Brasil criaria a primeira rota operacional para essa nova tecnologia. Todas essas empresas já têm um know-how mínimo com seus veículos.
Resumindo, essas duas estações permitiriam a criação de um “consórcio” de usuários e interessados no hidrogênio no Brasil.
O Brasil e suas oportunidades energéticas
Bio
Eustaquio Sirolli
Mestrado em Ciência dos Materiais IPEN/USP
MBA em Automotive Business FGV
Engenharia de Produção FEI
Engenharia Automobilística FEI
Foton Caminhões 9 anos
Mercedes-Benz 39 anos
H2 Fuel Cell Engenharia
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