Por que a corrupção está corroendo o potencial do Brasil para liderar a transição energética
- EnergyChannel Brasil

- 19 de set.
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Por EnergyChannel — 19 de setembro de 2025
A corrupção sistêmica em contratos, licitações e dentro de empresas estatais eleva custos, afasta investimentos e distorce prioridades públicas, reduzindo a capacidade do Brasil de aproveitar sua vantagem competitiva em energias renováveis. Entenda como episódios recentes, fraquezas institucionais e escolhas de política pública estão transformando uma oportunidade histórica em risco estratégico. (Banco Mundial)

O Brasil tem recursos naturais e tecnologia para assumir papel de liderança na transição energética: matriz elétrica já com alta participação renovável, forte indústria de bioenergia e potencial em eólica offshore e hidrogênio verde.
Mas a aceleração desse processo esbarra em um inimigo antigo e multifacetado: a corrupção. Contratos superfaturados, procedimentos de licitação frágeis e desvios em obras e obras públicas condenaram projetos, atrasaram leilões e minaram a confiança de investidores nacionais e estrangeiros fatores que transformam potencial competitivo em risco econômico e climático. (EPE)
1) Como a corrupção aumenta custos e afasta investidores
Investidores institucionais e bancos multilaterais levam em conta riscos políticos e de integridade. Casos de corrupção aumentam o custo do capital para projetos de infraestrutura — incluindo transmissão, armazenamento e usinas renováveis — ao elevar prêmios de risco, condicionar due diligence mais rígida e, em muitos casos, travar financiamentos até que controles sejam reforçados. Relatos de práticas corruptas em contratos públicos e concessões deterioram a percepção do país e ampliam o “risco-país” para projetos de energia limpa. (Não Disponível)
2) O legado da Lava Jato e o efeito sobre decisões estratégicas
A Operação Lava Jato expôs esquemas que envolveram grandes empresas e governos e teve efeitos profundos sobre o setor energético. Além de sanções e processos, a operação abalou modelos de conteúdo local e parcerias público-privadas, forçando revisões contratuais, gerando incertezas e atrasando investimentos — tanto no setor de óleo & gás quanto em iniciativas de transição. Esse legado institucional ainda influencia decisões sobre onde, quando e como investir em alternativas de baixo carbono. (Global Arbitration Review)
3) Prioridades públicas desalinhadas: mais dinheiro para óleo e menos para energia limpa
Relatórios recentes mostram que programas e planos governamentais continuam direcionando recursos substanciais a petróleo e gás — incluindo grandes investimentos públicos enquanto parte expressiva do financiamento para renováveis fica a cargo do setor privado, exposto a volatilidade e riscos de mercado. Quando contratos e licitações se tornam terreno para corrupção, a tendência é reforçar projetos já consolidados (e rentáveis no curto prazo) em detrimento de investimentos públicos estratégicos necessários para construir infraestrutura de suporte (transmissão, interconexões, armazenamento) para renováveis. (Human Rights Watch)
4) Obras de infraestrutura (transmissão e leilões) em xeque
A expansão de capacidade e a integração de fontes solar e eólica dependem de linhas de transmissão, subestações e processos de licitação transparentes. Irregularidades em contratos de obras e falhas de governança em agências reguladoras atrasam cronogramas, elevam custos e, em casos extremos, suspenderam ou inviabilizaram projetos. Auditorias e investigações em empreiteiras e consórcios também criam gargalos operacionais que reduzem a velocidade de implementação de redes inteligentes e projetos de grande escala. (OECD)
5) Risco para financiamento climático e para a reputação internacional
Instituições internacionais (bancos multilaterais, fundos de clima) estão cada vez mais condicionando desembolsos a salvaguardas anticorrupção e transparência. Eventos globais recentes mostram que corrupção pode bloquear fluxos destinados a mitigação e adaptação. Para o Brasil, perder acesso rápido e de baixo custo a financiamentos climáticos significa retardar projetos de hidrogênio verde, eólica offshore e redes inteligentes justamente as áreas que poderiam consolidar sua liderança. (Banco Mundial)
Casos emblemáticos e lições práticas
Petrobras e processos correlatos: além do dano reputacional, processos e litígios relacionados a esquemas de corrupção geraram incertezas que afetaram investimentos estratégicos e reorientaram prioridades corporativas. A gestão de crises e a necessidade de reconstruir controles consome recursos e atenção executiva. (Global Arbitration Review)
Contratos de infraestrutura e empreiteiras: episódios com grandes empreiteiras demonstraram como práticas irregulares podem inflacionar prazos e orçamentos, reduzindo a atratividade econômica de projetos de longo prazo (evaluados sobre décadas), como parques eólicos e linhas de transmissão. (OECD)
O que precisa mudar — recomendações práticas
Transparência em tempo real de contratos e licitações: abrir dados de contratos, etapas e aditivos em plataformas acessíveis, com fiscalização independente. (Open Government Partnership)
Cláusulas anticorrupção e due diligence obrigatória: exigir padrões internacionais em financiamentos e parcerias (condicionalidades que protejam recursos de clima). (Banco Mundial)
Fortalecer agências reguladoras (autonomia, recursos e governança): para reduzir captura política e aumentar previsibilidade regulatória. (OECD)
Acelerar licitações e contratos padronizados para transmissão: com critérios técnicos e avaliações de integridade pré-qualificatórias. (EPE)
Criação de um “carimbo verde e íntegro” para projetos: certificação nacional que combine critérios ESG, anticorrupção e social para facilitar acesso a financiamentos internacionais. (Banco Mundial)
Conclusão
O Brasil dispõe de atributos únicos para liderar a transição energética recursos hídricos, biomassa, sol e vento em abundância mas a corrupção sistêmica corrói atratividade, encarece projetos e desloca investimentos para soluções de curto prazo. Sem reforma institucional, controles robustos e maior alinhamento entre políticas públicas e financiamento climático, o país corre o risco de perder uma janela histórica para consolidar uma economia de baixo carbono.
Corrigir isso não é apenas uma questão ética: é estratégia econômica e segurança energética para as próximas décadas. (Banco Mundial)
Por que a corrupção está corroendo o potencial do Brasil para liderar a transição energética





























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