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TURBULÊNCIA TARIFÁRIA: COMO AS POLÍTICAS COMERCIAIS ESTÃO REMODELANDO O SETOR SOLAR AMERICANO

Análise do EnergyChannel revela que novas tarifas podem elevar custos de projetos solares e de armazenamento em até 50%, forçando empresas a repensar estratégias de fornecimento e financiamento


Por Equipe EnergyChannel


TURBULÊNCIA TARIFÁRIA: COMO AS POLÍTICAS COMERCIAIS ESTÃO REMODELANDO O SETOR SOLAR AMERICANO
TURBULÊNCIA TARIFÁRIA: COMO AS POLÍTICAS COMERCIAIS ESTÃO REMODELANDO O SETOR SOLAR AMERICANO

O setor de energia solar nos Estados Unidos enfrenta um momento decisivo. Em meio a ambiciosos planos de expansão da capacidade renovável e descarbonização da matriz energética, uma complexa teia de políticas tarifárias está criando ondas de incerteza que afetam toda a cadeia produtiva, desde fabricantes de equipamentos até desenvolvedores de projetos e investidores.


A mais recente análise, divulgada esta semana, projeta um cenário preocupante: as tarifas sobre importações de componentes solares e sistemas de armazenamento podem elevar os custos dos projetos em até 50%, dependendo da evolução das tensões comerciais globais. Este cenário coloca os Estados Unidos em posição ainda mais desvantajosa no mercado global, com custos de instalação solar já entre os mais elevados do mundo.


O LABIRINTO TARIFÁRIO


O Departamento de Comércio dos EUA determinou recentemente que importações de células solares de quatro países do Sudeste Asiático – Camboja, Tailândia, Vietnã e Malásia – devem enfrentar tarifas que variam de 41% a impressionantes 3.521%. A medida amplia a disputa comercial entre EUA e China, já que fabricantes chineses estabeleceram fábricas nesses países nos últimos anos.


"Em um setor com ciclos de planejamento de cinco a dez anos, não saber quanto um projeto custará no próximo ano ou no ano seguinte é extremamente disruptivo e causa enorme incerteza para os participantes da indústria de energia dos EUA".


A consultoria analisou dois cenários possíveis:


1. Cenário de tensão comercial: Até o final de 2026, a taxa tarifária efetiva se estabiliza em 10%, com tarifa de 34% sobre produtos chineses.


2. Cenário de guerra comercial: Os EUA mantêm uma política tarifária agressiva e implementam tarifas recíprocas que resultam em uma taxa efetiva geral de 30% até 2030.


Com base nesses cenários, estima que a maioria das tecnologias experimentará aumentos de custos de 6% a 11%, com o armazenamento de energia em escala de utilidade sendo a exceção, podendo enfrentar aumentos muito superiores.


ARMAZENAMENTO DE ENERGIA: O MAIS VULNERÁVEL


O segmento de armazenamento de energia emerge como o mais exposto às turbulências tarifárias. Os EUA dependem fortemente de células de bateria importadas para atender ao crescente mercado de sistemas de armazenamento de energia em escala de utilidade. Essa dependência, combinada com tarifas potencialmente elevadas, pode aumentar os custos desses projetos de 12% a mais de 50%.


"Embora a capacidade de fabricação de células de bateria nos EUA esteja se expandindo, não está crescendo em um ritmo nem perto do suficiente para atender mesmo a uma pequena fração dos projetos de baterias nos EUA". "Em 2025, estimamos que há capacidade de fabricação doméstica suficiente para atender apenas cerca de 6% da demanda, e até 2030, a fabricação doméstica poderia potencialmente atender a 40% da demanda."


COMPETITIVIDADE GLOBAL EM RISCO


No cenário de tensões comerciais, o custo de uma instalação solar em escala de utilidade nos EUA será 54% mais caro do que na Europa e 85% mais caro do que uma nova usina solar construída na China. A consultoria observa que a energia solar em escala de utilidade nos EUA já está entre as mais caras do mundo.


"As tarifas que têm sido aplicadas sobre módulos solares, juntamente com uma política de transmissão ineficiente que exacerba os custos de interconexão, tornaram os custos de construção para energia solar mais altos nos EUA do que na maioria dos outros mercados"; "Um aumento nos níveis tarifários só piorará este prêmio que os consumidores de energia dos EUA precisam pagar para acessar energia renovável."


FABRICAÇÃO DOMÉSTICA: SOLUÇÃO OU ILUSÃO?


A Aliança Americana para o Comitê de Comércio de Manufatura Solar, composta por fabricantes líderes de energia solar dos EUA, incluindo Convalt Energy, First Solar, Meyer Burger, Mission Solar, Qcells, REC Silicon e Swift Solar, alega que o dumping e a subsidiação de produtos fabricados no Sudeste Asiático para evitar regras comerciais levaram a um excesso de painéis solares sendo vendidos abaixo do custo de produção.


O grupo comercial argumenta que a manufatura solar americana está à beira do crescimento, pronta para introduzir novos empregos nos EUA e impulsionar a transição energética limpa do país. No entanto, esse impulso está sendo frustrado pela política industrial da China e pela forma como prejudica os produtores domésticos, segundo Tim Brightbill, advogado principal do Comitê.


"Esta é uma vitória decisiva para a manufatura americana e confirma o que há muito sabemos: que empresas solares com sede na China têm trapaceado no sistema, prejudicando empresas dos EUA e custando aos trabalhadores americanos seus meios de subsistência", afirmou Brightbill.


Para a coalizão, o objetivo dessas tarifas é nivelar o campo de jogo para que os fabricantes solares dos EUA possam realmente competir.


O PARADOXO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS


Abigail Ross Hopper, presidente e CEO da Associação das Indústrias de Energia Solar (SEIA), um dos maiores grupos comerciais de energia solar e armazenamento dos EUA, com mais de 1.200 membros, testemunhou que a investigação e suas subsequentes tarifas são contraproducentes tanto para o futuro da fabricação solar quanto para a implantação solar nos Estados Unidos.


Ela destacou que, embora haja 52 gigawatts de capacidade de produção de módulos nos EUA e outros 47 gigawatts anunciados ou em construção, a capacidade de células está muito atrás, com apenas 2 gigawatts de capacidade operacional de produção de células.


As fábricas de células levam muito mais tempo para serem construídas do que as fábricas de módulos porque requerem mais energia elétrica. Também é mais complicado garantir conexões de utilidade, disse Hopper, e os detalhes ambientais das fábricas de células são mais complexos de resolver quando se trata de localização, zoneamento e licenciamento.


"Os produtores de módulos dos EUA agora são competitivos com as importações, mas apenas se tiverem acesso a células, o que hoje significa células importadas", disse Hopper. "A imposição de tarifas sobre células não faz sentido quando há produção de células insignificante nos Estados Unidos."


ADAPTAÇÃO EMPRESARIAL EM TEMPO REAL


Em antecipação a novas tarifas após o anúncio das tarifas preliminares em 2024, alguns fabricantes já mudaram suas cadeias de suprimentos e usaram células solares produzidas fora da Malásia, Vietnã, Camboja e Tailândia.


A Arevon, uma produtora independente de energia em escala de utilidade, tem trabalhado para diversificar sua cadeia de suprimentos e mitigar riscos. "Estamos constantemente avaliando nossa estratégia de aquisição para equilibrar custos, confiabilidade e conformidade regulatória", explica um executivo da empresa. "A volatilidade tarifária nos obriga a ser muito mais ágeis e a desenvolver relacionamentos com fornecedores em múltiplas regiões."


Já a GS Power Partners, uma IPP distribuída, tem focado em soluções de fornecimento doméstico. "Estamos investindo em parcerias com fabricantes americanos emergentes, mesmo que isso signifique um prêmio de custo no curto prazo", comenta um representante. "A estabilidade e previsibilidade valem o investimento adicional."


A Heliene, fabricante norte-americana, vê oportunidades em meio ao caos. "As tarifas criam desafios, mas também abrem espaço para que fabricantes domésticos como nós expandam operações e inovem", afirma um porta-voz da empresa. "Estamos acelerando nossos planos de expansão para atender à crescente demanda por produtos fabricados nos EUA."


IMPACTOS NO FINANCIAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS


As incertezas tarifárias estão complicando significativamente o financiamento de projetos solares. Desenvolvedores relatam que os investidores estão exigindo margens de risco maiores, elevando o custo de capital. Acordos de compra de energia (PPAs) estão sendo renegociados para incorporar cláusulas de contingência relacionadas a tarifas, e alguns projetos estão sendo adiados enquanto os desenvolvedores aguardam maior clareza regulatória.


"O desenvolvimento de projetos solares nos EUA já enfrenta desafios significativos com custos de interconexão elevados e processos de permissão complexos", observa a Wood Mackenzie em seu relatório. "As tarifas adicionam outra camada de complexidade que pode atrasar a transição energética do país."


A consultoria projeta que, se o cenário de guerra comercial se materializar, até 35% dos projetos solares planejados para 2026-2027 poderiam ser cancelados ou significativamente adiados, representando uma redução potencial de 15-20 GW na capacidade instalada.


PERSPECTIVAS E CAMINHOS À FRENTE


O futuro do setor solar americano dependerá em grande parte de como as políticas tarifárias evoluirão nos próximos meses. A Comissão de Comércio Internacional (ITC) tem até 2 de junho para decidir se cada país causou danos materiais ou não. Se uma determinação negativa for feita, nenhuma ordem seria emitida. Se a ITC fizer uma determinação afirmativa, as ordens de tarifas seriam emitidas em 9 de junho.


Enquanto isso, o setor está se adaptando de várias maneiras:


1. Diversificação geográfica: Empresas estão buscando fornecedores em países não afetados pelas tarifas atuais, como Índia, México e nações europeias.


2. Aceleração da manufatura doméstica: Incentivados pela Lei de Redução da Inflação (IRA), fabricantes estão expandindo a produção local, embora o ritmo seja insuficiente para atender à demanda no curto prazo.


3. Inovação tecnológica: Algumas empresas estão investindo em tecnologias que utilizam menos materiais afetados por tarifas ou que oferecem maior eficiência para compensar os custos mais altos.


4. Advocacia política: Associações do setor estão pressionando por políticas mais previsíveis e por um equilíbrio entre proteção da indústria doméstica e manutenção do ritmo de implantação de energia limpa.


A indústria solar dos EUA instalou quase 50 GW de capacidade em 2024, um aumento de 21% em relação a 2023. A SEIA, em parceria com a Wood Mackenzie, projeta que as instalações em 2025 e 2026 estarão novamente próximas de 50 GW por ano, mais do que o dobro dos 23 GW instalados em 2022.


"As perspectivas permanecem brilhantes para toda a cadeia de suprimentos dos EUA, incluindo fabricantes domésticos – desde que este caso não prejudique esse crescimento projetado", escreveu Hopper em testemunho apoiando uma determinação negativa da ITC.


O que está claro é que o setor solar americano está em um momento de transformação. As políticas tarifárias, embora desafiadoras no curto prazo, podem potencialmente catalisar uma indústria doméstica mais robusta no longo prazo – se implementadas com cuidado e previsibilidade. No entanto, o equilíbrio entre proteger a manufatura doméstica e manter o ritmo da transição energética permanece delicado.


Para consumidores e investidores, a mensagem é de cautela e adaptabilidade. O mercado solar americano continuará crescendo, mas com novos contornos econômicos e geográficos que premiarão aqueles capazes de navegar habilmente pelo complexo labirinto tarifário que se desenha no horizonte.


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