Amsterdã: Inteligência Urbana, Sustentabilidade e o Futuro dos Edifícios
- Silla Motta
- 26 de jun.
- 4 min de leitura
Por Silla Motta
Amsterdam, 2025
Visitar Amsterdã é mais do que conhecer uma cidade charmosa, de canais centenários e bicicletas por todos os lados. É testemunhar, em escala urbana, como o futuro pode ser desenhado com inteligência, propósito e respeito ao planeta. Ao longo da minha visita, mergulhei em experiências que conectam inovação, sustentabilidade, eletrificação e colaboração — e pude entender por que Amsterdã é considerada uma das cidades mais inteligentes do mundo.

Uma cidade que pensa em rede
Amsterdã lidera há anos o ranking das cidades mais inteligentes da Europa. Não apenas por utilizar tecnologia, mas por fazê-lo de forma inclusiva, orientada por dados e com foco em melhorar a vida das pessoas. Desde 2009, o programa Amsterdam Smart City conduz uma abordagem colaborativa envolvendo governo, empresas, startups, universidades e cidadãos. São mais de 170 projetos em andamento — muitos com impacto direto no cotidiano, da gestão de resíduos à mobilidade elétrica.

Durante minha caminhada por bairros como Nieuw-West e Oostelijk Havengebied, observei sensores que monitoram vagas de estacionamento, otimizando a gestão urbana, e sistemas que ajustam a iluminação pública de acordo com o movimento nas ruas. São pequenas soluções interconectadas que, juntas, reduzem emissões, aumentam a eficiência energética e tornam a cidade mais fluida.
Mobilidade elétrica e ativa como norma
Amsterdã é referência global em mobilidade ativa. Com mais de 800 mil bicicletas para uma população de cerca de 900 mil habitantes, a cidade é desenhada para os ciclistas e pedestres, não para os carros. A infraestrutura é impecável — ciclovias bem sinalizadas, integração com o transporte público e estacionamentos específicos para bikes.

Mas o destaque não para aí. A cidade tem metas ambiciosas de eletrificação: pretende ter uma frota 100% elétrica até 2030.

Em bairros centrais, como De Pijp, vi estações de recarga elétrica a cada esquina e sistemas de compartilhamento de carros, scooters e até embarcações elétricas para entregas via canal. Um verdadeiro ecossistema urbano de baixo carbono.
Arquitetura sustentável: a experiência no The Edge
Um dos pontos altos da viagem foi minha visita ao The Edge, localizado no distrito financeiro de Zuidas. Este edifício, que abriga a sede da Deloitte e outras grandes empresas, é considerado o edifício mais sustentável do mundo.
Projetado pela PLP Architecture e desenvolvido pela OVG Real Estate, o The Edge atingiu a impressionante pontuação de 98,36% no selo BREEAM, a mais alta já registrada. Mas o que mais me impactou foi o fato de que o edifício produz mais energia do que consome, sendo um verdadeiro edifício de energia positiva (energy-positive building).
A energia vem de uma combinação de painéis solares integrados ao prédio e um sistema geotérmico que armazena calor e frio em poços subterrâneos. A iluminação é controlada por uma rede inteligente de LED via “Power over Ethernet”, e o edifício é monitorado por mais de 28 mil sensores IoT que regulam temperatura, luminosidade, CO₂ e ocupação em tempo real.

Tudo é orientado por dados — desde a escolha do lugar de trabalho até o uso eficiente de salas, energia, água e climatização. O resultado é um prédio que consome cerca de 70% menos energia do que uma construção convencional e, ainda assim, gera excedentes.
O The Edge não é apenas eficiente: ele é inteligente, confortável e humano. Seu grande átrio central, além de conectar os ambientes, convida à interação e à colaboração entre pessoas de diferentes áreas e empresas. Uma arquitetura que reflete o espírito de uma cidade voltada para o futuro.
Urbanismo regenerativo e circular
Outro momento marcante da visita foi conhecer Schoonschip, um bairro flutuante que abriga 46 residências sustentáveis sobre um canal no norte da cidade. Com sistemas solares, bombas de calor e armazenamento em baterias, a comunidade opera em regime de microrrede elétrica, gerenciando seus próprios fluxos energéticos de forma colaborativa.
Também visitei o De Ceuvel, um parque de inovação circular construído sobre solo contaminado, onde antigos barcos foram transformados em escritórios criativos. Ali, a sustentabilidade é levada ao extremo: compostagem, fitorremediação, reúso de água, arquitetura adaptativa e baixo consumo de recursos. Uma aula viva de como o passado industrial pode dar lugar a um futuro regenerativo.
A inteligência que serve às pessoas
Mais do que sensores e tecnologia, Amsterdã ensina que ser uma cidade inteligente é colocar as pessoas no centro. A inteligência urbana aqui se manifesta em qualidade de vida, ar limpo, deslocamentos ágeis, espaços verdes acessíveis e uma convivência harmoniosa entre inovação e bem-estar.

Volto ao Brasil profundamente inspirada — não apenas pelo que vi, mas pelas possibilidades que isso abre para nosso contexto. A experiência em Amsterdã reafirma que é possível construir cidades que respeitam o planeta e valorizam as pessoas. O The Edge é símbolo disso. Mas, acima de tudo, é a cidade inteira que respira futuro.
Silla Motta | Embaixadora Oficial do Energy Channel
Administradora, especialista em energia e sustentabilidade, CEO da Donna Lamparina.
Embaixadora da Thopen Energy, CanalEnergia e Climatempo.
Curadora da FIEE Conference 2025.
Apaixonada por cidades que respiram futuro.
Amsterdã: Inteligência Urbana, Sustentabilidade e o Futuro dos Edifícios
Lindo o artigo, parabéns Silla