Bandeira Vermelha: O Brasil à Beira de uma Crise Energética?
- Daniel Lima

- 2 de jun.
- 4 min de leitura
Por Daniel Lima – ECOnomista
Com a recente decisão da Aneel de acionar a bandeira vermelha em junho de 2025, muitos consumidores estão preocupados com o impacto na conta de luz. Para entender melhor essa medida, vamos analisar a situação dos reservatórios de energia do país e os fatores que influenciaram essa decisão.

Capacidade de Armazenamento de Energia (CAE)
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é dividido em 4 subsistemas, são eles: Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte. Cada um deles tem CAE que são os reservatórios das hidrelétricas.

Como pode ser observado na tabela acima a CAE no dia 31 de maio era de cerca de 200 mil MW/mês, ou aproximadamente 69% da CAE máxima do SIN. Parece uma situação bastante confortável para acionamento de bandeiras tarifárias.
O que será que está acontecendo?
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o acionamento da bandeira vermelha para o mês de junho/2025 é justificado pelo cenário de afluências abaixo da média em todo o país, conforme indicado pelo ONS. Vale lembrar que no mês de maio a Aneel já tinha acionado a bandeira amarela.
A Aneel informou em nota oficial que “com o fim do período chuvoso, a previsão de geração de energia proveniente de hidrelétrica piorou, o que nos próximos meses poderá demandar maior acionamento de usinas termelétricas, que possuem energia mais cara”.
Todos os consumidores das distribuidoras pagam pelo Sistema de Bandeiras Tarifárias, com exceção daqueles localizados em sistemas isolados. Quando a conta de luz é calculada pela bandeira verde, não há nenhum acréscimo. Quando é aplicada a bandeira amarela, o acréscimo é de R$ 1,885 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. A bandeira vermelha tem dois patamares, no 1 a tarifa sofre acréscimo de R$ 4,463 e no 2, o valor passa para R$ 7,877 para cada 100 kWh consumido.
Isso significa que, para uma família que consome 200 kWh por mês, a mudança de bandeira verde para vermelha patamar 1 pode representar um aumento de cerca de R$ 9,00 na conta de luz.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e a previsão para o período de junho a agosto/2025 não é nada boa (mapa abaixo), principalmente nas áreas onde estão localizados os grandes reservatórios de energia do SIN.

Então pode-se chegar à conclusão de que a medida adotada pela Aneel foi por precaução, ou seja, aumentar o saldo da conta “bandeiras tarifárias” para quem sabe, utilizar mais na frente com o encarecimento da geração térmica.
Só para lembrar, as ultimas vezes que a Aneel acionou as bandeiras tarifárias vermelhas, patamar 1 e 2, foi em setembro e outubro de 2024, diga-se de passagem, pela primeira vez depois da crise hídrica de 2021.
Finalizamos o ano de 2024 com uma CAE de 141.000 MWmês ou cerca de 48%, e nesse mês a bandeira era verde. Vale lembrar, também, que os que decidem o sistema elétrico não adotaram o horário de verão como recomendado pelo ONS, na época.

Se as previsões climáticas não mudarem, tudo indica que teremos uma grave crise energética nos próximos meses. A antecipação da bandeira vermelha para junho é um sinal disso, ela foi acionada 3 meses antes do que no ano passado como pode ser visto na imagem acima. Inclusive o ONS voltou a recomendar a adoção do horário de verão para este ano.
A função estratégica ou essencial da Geração Distribuída de Energia (GD)
Se não fosse pela GD, que nesta semana atingiu a marca de 40 gigawatts de potência instalada representando 16% da Matriz Elétrica Brasileira (MEB), — com 99% desse total proveniente da fonte solar — a situação poderia estar muito pior. A “geração sobre os telhados” tem sido fundamental para aliviar a pressão sobre os reservatórios ao fornecer eletricidade diretamente aos consumidores, reduzindo a necessidade de acionamento de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes.
O crescimento da GD tem permitido que empresas e famílias se tornem menos vulneráveis às oscilações do sistema elétrico nacional. Cada quilowatt gerado localmente representa economia tanto na renda familiar quanto no caixa das empresas, além de contribuir para uma maior segurança energética para todos.
Planejamento e a Solução no Curto Prazo
Diante desses desafios, torna-se essencial um planejamento energético mais eficiente e proativo por parte dos gestores do setor elétrico. A dependência excessiva das grandes hidrelétricas expõe o país a vulnerabilidades climáticas, impactando diretamente os custos e a estabilidade do fornecimento.
Nesse contexto, é hora de incentivar o armazenamento de energia por baterias associado à geração distribuída. Em um curtíssimo prazo, essa estratégia poderia agregar ao sistema elétrico nacional uma solução eficaz e de baixo custo, permitindo maior capacidade de armazenamento em toda a rede e reduzindo a necessidade de acionamento de fontes mais caras e poluentes.
Daniel Lima é consultor e empreendedor no setor de energia.
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