Belém e a Realidade que Incomoda
- EnergyChannel Brasil

- há 1 dia
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Por Daniel Lima – ECOnomista
Encruzilhada
Belém, capital do Pará, está situada em uma das regiões mais pobres e desiguais do Brasil. Enfrenta desafios históricos de infraestrutura precária, saneamento básico limitado, desigualdade social e vulnerabilidade climática. Ao mesmo tempo, está inserida em um dos ecossistemas mais estratégicos do planeta: a Amazônia.

Essa dualidade entre carência e potência torna Belém um símbolo poderoso da encruzilhada em que o mundo se encontra. A crise climática global não é apenas uma questão de carbono, mas de justiça. Tudo depende do olhar e das ações: ou continuamos ignorando os centros periféricos, ou os colocamos no centro da transformação.
A Realidade que Incomoda
A COP30 em Belém escancara os dilemas da justiça climática global e a urgência de uma resposta coordenada à crise planetária. A Conferência das Partes (COP30) representa um momento decisivo na luta contra a crise climática. A escolha de Belém como sede não é apenas simbólica é estratégica. Ao trazer os principais negociadores climáticos para o coração da Amazônia, o Brasil busca evidenciar os desafios e as soluções que emergem da maior floresta tropical do planeta, cuja preservação é vital para o equilíbrio ambiental global.
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Entre os temas mais sensíveis em debate está o financiamento climático para países pobres, especialmente no que diz respeito à transição energética e à saída dos combustíveis fósseis. Esse ponto trava negociações há anos, pois envolve não apenas recursos financeiros, mas também o reconhecimento do passivo histórico dos países ricos, que construíram sua prosperidade à custa de emissões descontroladas de gases de efeito estufa.
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A ciência é clara: sete dos nove limites planetários já foram ultrapassados incluindo o clima, a biodiversidade, o uso de água doce, os ciclos de nitrogênio e fósforo, a degradação do solo, a poluição química e a acidificação dos oceanos. Isso configura uma crise planetária, em que o estresse ambiental ameaça a estabilidade dos sistemas que sustentam a vida humana.
Apesar da gravidade, a janela de oportunidade ainda está aberta. O planeta demonstra resiliência e capacidade de recuperação, desde que haja ação coordenada, ambiciosa e justa. No entanto, a postura de países ricos continua sendo um obstáculo. Os Estados Unidos, sob o atual governo, negam a existência das mudanças climáticas, mesmo com décadas de pesquisa científica nacional sobre o tema. A Rússia evita compromissos mais profundos, enquanto a China faz o seu dever dentro de casa.
A União Europeia, embora se posicione como líder climática, carrega um passivo histórico significativo. Boa parte de sua riqueza foi construída com base em práticas que aceleraram a degradação ambiental. No entanto, esse reconhecimento não tem se traduzido em ações proporcionais de reparação ou financiamento.
Preconceito Climático
O episódio envolvendo o chanceler da Alemanha, que fez declarações consideradas preconceituosas sobre Belém, expôs como visões imperialistas e mal-informadas ainda influenciam decisões estratégicas. A reação negativa foi imediata, prejudicando não apenas o ambiente político da conferência, mas também a imagem internacional da Alemanha, tradicionalmente vista como referência no debate climático e em energia verde.
A COP30 é mais do que uma conferência é um teste de maturidade geopolítica e ambiental.
O Brasil, ao sediar o evento na Amazônia, convida o mundo a enxergar de perto os impactos e as soluções que emergem da floresta. É uma oportunidade de reconectar decisões globais com realidades locais, e de exigir que os países historicamente responsáveis pela crise climática assumam seu papel na construção de um futuro sustentável.
A justiça climática não é um favor é uma necessidade. E Belém, com todas as suas complexidades, é o palco ideal para esse chamado.
Sobre o autor:
Economista com MBA em Arquitetura, Construção e Gestão de Construções Sustentáveis, Daniel Lima construiu uma carreira plural e estratégica, atuando nos setores público, privado e terceiro setor.
Com ampla experiência em projetos sustentáveis e captação de recursos nacionais e internacionais, Daniel se destacou como Coordenador Geral do PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, onde liderou iniciativas de impacto regional.
Atualmente, é especialista e consultor em energia solar e armazenamento de energia, Diretor da GVD Energia, CEO da Agrosolar Investimentos Sustentáveis, e Conselheiro da Energia Verde do Brasil EVBIO, contribuindo para a transição energética e o fortalecimento da economia verde no país.
Seu trabalho une visão econômica, inovação tecnológica e compromisso ambiental pilares essenciais para um futuro mais justo e sustentável.
Belém e a Realidade que Incomoda











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