COP30 e a encruzilhada da transição energética: entre retrocessos fósseis e o futuro renovável
- Renato Zimmermann
- há 1 hora
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A COP30, sediada em Belém, tornou-se palco de embates cruciais sobre o futuro da energia global.

Em meio às negociações diplomáticas, uma voz ecoou com força: a do Instituto Internacional Arayara. A ONG brasileira, conhecida por sua atuação incisiva contra os combustíveis fósseis, trouxe à conferência não apenas dados alarmantes, mas também histórias reais de comunidades devastadas pela expansão das termelétricas.
Arayara: guardiã da justiça climática
A Arayara atua como observadora crítica das políticas energéticas e ambientais, denunciando práticas que favorecem interesses corporativos em detrimento da saúde pública e da sustentabilidade. Sua luta pela eliminação do carvão e pela responsabilização da indústria do petróleo é pautada por evidências científicas e mobilização social. Na COP30, a organização reforçou seu papel como articuladora internacional, promovendo ações no Brasil, Chile e Argentina.
Em parceria com organizações chilenas, a Arayaraapresentou um documentário que expõe os impactos das termelétricas nas comunidades latino-americanas.
O filme revela como a instalação dessas usinas alterou drasticamente o cotidiano local: poluição do ar, contaminação de solos, águas e litoral, além de doenças respiratórias e dermatológicas. Para reduzir o consumo de carvão e gás, algumas usinas passaram a utilizar amônia na combustão uma solução que, longe de ser limpa, gera novos contaminantes altamente nocivos à saúde humana.
Pressão política: veto ao carvão
Em um gesto estratégico, John Wurdig, ativista da Arayara, entregou pessoalmente à ministra Marina Silva uma carta dirigida ao presidente da República.
O documento pede o veto aos artigos do Projeto de Lei de Conversão nº 10/2025, que prevê a contratação de reserva de capacidade para usinas termelétricas a carvão mineral. A proposta, derivada da Medida Provisória nº 1.304/2025, representa um retrocesso climático e contradiz os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris.
A bomba de carbono dos leilões de gás
Outro alerta veio do relatório da Arayara sobre o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2026. Foram cadastrados 311 projetos de usinas a gás, somando mais de 112 GW de potência instalada.
A operação conjunta dessas usinas pode emitir até 91,4 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano o que, em 15 anos, ultrapassaria 1,3 gigatoneladas. Trata-se de uma verdadeira “carbonbomb”, capaz de comprometer décadas de esforços climáticos.
Ações na Argentina e articulação regional
Na Argentina, a Arayara tem atuado contra projetos fósseis e em defesa de políticas públicas voltadas à transição energética justa. A articulação regional fortalece a resistência latino-americana aos retrocessos e amplia a pressão sobre governos e organismos multilaterais.
COP30: documentos em negociação e o pacto pelo fim do carvão
As negociações da COP30 giram em torno de um novo marco global para a transição energética. Um dos documentos mais debatidos é o “Pacto pela Eliminação do Carvão até 2040”, que busca compromissos concretos dos países signatários.
Embora enfrente resistência de nações dependentes do carvão, o pacto tem ganhado apoio de blocos como a União Europeia e países vulneráveis às mudanças climáticas.
Renováveis em risco: apagões e falhas de planejamento
Apesar do avanço das fontes renováveis, o Brasil enfrenta desafios estruturais. Usinas solares e eólicas foram construídas longe dos grandes centros de consumo, sem o devido planejamento da rede de transmissão.
Agora, para corrigir o desequilíbrio, o governo sinaliza penalizações a quem gera sua própria energia como se a autossuficiência fosse um problema.
Essa lógica revela um mercado elétrico mais preocupado em capturar a conta do consumidor do que em oferecer soluções tecnológicas, seguras e acessíveis.
A verdadeira transição energética exige resiliência, descentralização e inteligência. Microrredes, redes inteligentes e geração próxima ao consumo são o futuro. Gerar energia hoje é mais simples e acessível do que nunca, mas investidores e governos parecem presos a paradigmas ultrapassados.
Pós-COP: maturidade e vigilância
A COP30 marca um ponto de inflexão. A maturidade da transição energética dependerá da pressão contínua da sociedade civil, da inovação tecnológica e da coragem política para romper com o passado fóssil. A atuação da Arayara é um exemplo de como a mobilização social pode influenciar decisões e construir um futuro energético mais justo, limpo e resiliente.
COP30 e a encruzilhada da transição energética: entre retrocessos fósseis e o futuro renovável
Por Renato Zimmermann – Desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética







