BESS: a chave para destravar a eficiência energética e reduzir custos na sua operação
- EnergyChannel Brasil
- há 2 horas
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Por Daniel Pansarella para Energy Chanel

Em um cenário de crescente volatilidade nos custos de energia e uma transição acelerada para fontes renováveis, empresas de todos os portes enfrentam um desafio duplo: como garantir a segurança energética de suas operações e, ao mesmo tempo, otimizar despesas em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo? A resposta pode estar em uma sigla de quatro letras que está redefinindo a gestão de energia no Brasil: BESS, ou Battery Energy Storage Systems.
Longe de ser uma mera tendência, o uso de sistemas de armazenamento de energia em baterias consolidou-se como uma vantagem competitiva estratégica. A tecnologia permite que empresas industriais e comerciais não apenas se protejam contra as flutuações da rede, mas também assumam um papel ativo na gestão de seu consumo, transformando um centro de custo em uma fonte de eficiência e previsibilidade. A pergunta não é mais se as baterias são viáveis, mas quando sua empresa irá adotá-las para se manter à frente.
A Mecânica do Load Shifting: Análise Técnica e Viabilidade
A aplicação mais imediata e impactante do BESS para o setor produtivo é o load shifting, ou deslocamento de carga. A estratégia, embora conceitualmente simples, envolve uma análise técnica robusta para garantir sua viabilidade e maximizar o retorno financeiro. O princípio é carregar as baterias em horários de tarifa reduzida (fora de ponta, geralmente de madrugada) e descarregá-las durante o horário de ponta (tipicamente entre 18h e 21h), quando a energia é significativamente mais cara.
Para que essa operação seja bem-sucedida, o dimensionamento correto do sistema é crucial. Ele se baseia em dois pilares: a capacidade de armazenamento (em kWh), que deve ser suficiente para suprir a energia consumida no horário de ponta, e a potência do sistema (em kW), que precisa atender à demanda máxima da operação durante esse período. Um projeto mal dimensionado pode comprometer tanto a economia gerada quanto a segurança operacional.
Além do dimensionamento, a eficiência do ciclo completo (Round-Trip Efficiency - RTE) é um indicador-chave. As baterias de íon-lítio, tecnologia dominante no mercado, apresentam uma RTE que varia de 85% a 95%. Isso significa que, para cada 100 kWh de energia utilizada para carregar o sistema, entre 85 e 95 kWh são efetivamente entregues na descarga. Essa perda, inerente ao processo, deve ser considerada nos cálculos de viabilidade econômica.
Outro fator determinante é a vida útil da bateria, medida em ciclos de carga e descarga. A degradação do sistema está diretamente ligada à profundidade de descarga (Depth of Discharge - DoD). Ciclos com menor DoD (por exemplo, descarregar a bateria até 20% de sua capacidade em vez de 0%) tendem a prolongar significativamente sua vida útil, que pode variar de 3.000 a mais de 10.000 ciclos. Um projeto bem planejado equilibra a necessidade de energia com a preservação do ativo, otimizando o custo total de propriedade.
Parâmetro Técnico | Descrição | Valor Típico/Relevância |
Capacidade (kWh) | Energia total que a bateria pode armazenar e fornecer. | Dimensionada para cobrir o consumo no horário de ponta. |
Potência (kW) | Capacidade de entregar energia em um dado momento. | Deve atender à demanda máxima da operação no horário de ponta. |
Eficiência (RTE) | Percentual de energia recuperada após um ciclo de carga/descarga. | 85% a 95% para baterias de íon-lítio. |
Ciclos de Vida | Número de ciclos de carga/descarga que a bateria suporta. | 3.000 a 10.000 ciclos, impactado pela profundidade de descarga (DoD). |
Profundidade de Descarga (DoD) | Percentual da capacidade da bateria utilizado em cada ciclo. | DoD menores (e.g., 80%) prolongam a vida útil do sistema. |
A análise de viabilidade deve, portanto, ir além da simples diferença tarifária. Um estudo técnico-econômico detalhado, como o exemplificado pela PSO Engenharia para um consumidor na área de concessão da Enel SP, mostra que a diferença entre as tarifas de ponta e fora de ponta pode chegar a R$ 826,05/MWh [4]. Para uma empresa que consome 10 MWh no horário de ponta, a economia mensal pode superar os R$ 8.000,00, resultando em um payback atrativo para o investimento.
Um mercado em ebulição: os números do BESS no Brasil
O avanço do armazenamento de energia no Brasil não é uma promessa futura, mas uma realidade presente e em franca expansão. Dados da consultoria Greener indicam que a demanda por equipamentos BESS cresceu 89% em 2024 em comparação com o ano anterior, e a capacidade instalada já ultrapassa os 850 MWh. As projeções de investimento são ainda mais impressionantes, com estimativas que apontam para mais de R$ 23 bilhões até 2030.
Essa expansão é impulsionada por uma combinação de fatores: a queda nos custos da tecnologia de baterias, a crescente penetração de fontes intermitentes como a solar e a eólica na matriz elétrica, e a necessidade cada vez maior de flexibilidade e segurança no fornecimento de energia. Um estudo da consultoria PSR, por exemplo, estima que o uso de armazenamento poderia reduzir os custos médios do sistema elétrico brasileiro em até 16% até 2029.
Grandes players do mercado já estão se posicionando. Empresas como a WEG anunciaram investimentos bilionários na produção de baterias no país, enquanto outras, como a Brasol, estão apostando em modelos de negócio inovadores, como o BESS-as-a-Service, que permite a empresas de todos os portes acessarem os benefícios da tecnologia sem a necessidade de grandes investimentos iniciais (CAPEX).
Além da redução de custos: resiliência e sustentabilidade
Os benefícios do BESS vão muito além da economia na fatura de energia. Em um país com um histórico de instabilidade na rede e eventos climáticos extremos, garantir a continuidade operacional é fundamental. Os sistemas de armazenamento funcionam como um no-break de grande porte, fornecendo energia de forma instantânea em caso de falhas na rede e evitando perdas de produção, danos a equipamentos e prejuízos financeiros.
Para empresas que já investem ou planejam investir em geração própria, como a solar fotovoltaica, o BESS é o complemento ideal. Ele permite o armazenamento do excedente de energia gerado durante o dia para uso noturno ou em momentos de baixa irradiação, maximizando o autoconsumo e a independência energética. Essa combinação não apenas potencializa o retorno sobre o investimento em solar, mas também fortalece a agenda de sustentabilidade da empresa, permitindo uma operação mais limpa e com menor pegada de carbono.
Desafios e o caminho a seguir
Apesar do cenário promissor, a massificação do BESS no Brasil ainda enfrenta obstáculos, principalmente no campo regulatório e tributário. A alta carga de impostos, que pode representar até 76% do custo dos sistemas, e a falta de uma regulamentação clara para a remuneração de serviços ancilares (como o controle de frequência e tensão) ainda são barreiras a serem superadas. No entanto, os avanços recentes, como a publicação de diretrizes pela ANEEL e a previsão de leilões de capacidade dedicados ao armazenamento, sinalizam um futuro promissor.
Para as empresas, a mensagem é clara: esperar pela regulação perfeita pode significar perder uma oportunidade estratégica. A tecnologia BESS já é economicamente viável para uma ampla gama de aplicações, especialmente o load shifting e a garantia de confiabilidade. Avaliar o perfil de consumo, identificar os gargalos energéticos e estruturar um projeto de armazenamento sob medida não é mais uma questão de luxo, mas de inteligência competitiva.
Em um mundo onde a energia é um insumo cada vez mais estratégico, dominar seu uso é dominar o próprio negócio. O BESS oferece as ferramentas para essa maestria, transformando um desafio complexo em resultados reais e sustentáveis.
Sobre o Autor
Daniel Pansarella, Executivo com vasta experiência no setor de energia solar, especializado em Tributação, políticas públicas e impactos no setor produtivo, com experiência em comércio exterior e negociações internacionais, logística, cadeia produtiva no mercado brasileiro e latino-americano. Atualmente, atua como Public Affairs & Business Developer Latam na Trina Solar, e Chairman do Conselho Fiscal da Absolar.
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