Nem tudo é luz: por que ainda temos dúvidas sobre o horário de verão
- Felipe Figueiró

- 23 de jul.
- 3 min de leitura
Muito se fala em ressuscitar o horário de verão. Mas olhar só pela lente técnica da operação elétrica é um erro comum e pode nos cegar. Antes de bater o martelo, prefiro enxergar por inteiro junto de energia, nosso bolso e gente em especial.

𝐐𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐟𝐚𝐥𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐞𝐧𝐞𝐫𝐠𝐢𝐚:
O ONS calcula que adiantar o relógio corta perto de 2 GW da carga de ponta e derruba 2,9% da demanda máxima logo após o pôr‑do‑sol.
É quase meio Itaipu fora da tomada no horário mais caro. O próprio diretor-geral do ONS classificou a medida como “tecnicamente importante” para 2025, diante dos reservatórios baixos e da pressão crescente de data centers.
Faz sentido, mas não resolve o pico absoluto que temos pelas 15 h, muito forte por ar‑condicionado. Sem resposta à demanda e armazenamento, continuamos vulneráveis nesse horário aonde existem os picos de geração solar.
𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐚 𝐞𝐜𝐨𝐧𝐨𝐦𝐢𝐚 𝐬𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚:
Bares e restaurantes acabam ganhando nessa visão, estimam salto de até 50% no movimento entre 18h 21h, com ganhos de 10% a 15% no faturamento mensal.
Essa visão abre margens para maiores serviços que podem inclusive se prolongar até a noite, facilitando o movimento econômico, principalmente nesses segmentos.
𝐄 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐚 𝐬𝐨𝐜𝐢𝐞𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞𝐧𝐟𝐫𝐞𝐧𝐭𝐚?
Quem tem carro e ar‑condicionado com toda certeza curte um dia mais longo. Agora quem pega dois ônibus pode ficar mais tempo no calor ou madrugar no escuro. Ritmo circadiano, sono, acidentes de trânsito, segurança pública, tudo isso tem que entrar na conta. Sem reforço de frota, sombra em terminais, comunicação decente e melhora em segurança, o ganho vira desigualdade.
O gráfico abaixo deixa claro uma coisa, o pico real hoje acontece na parte da tarde e isso se repete em diferentes dias e meses do verão. Olhando para noite ainda há uma rampa, mas ela já começa em um patamar muito alto. Com o avanço da crise climática e os casos crescente de bombas de calor, até mesmo o pré-verão já vem apresentando curvas elevadas. Isso bagunça completamente a sazonalidade que antes orientava o modelo.

Olhando pelo lado de energia, acredito que podemos melhorar, sim. Desde que venha casado com programas de eficiência no pico vespertino e mais storage. Economicamente, vejo potencial, mas faltam provas para a gente deixar isso "mais fácil". Socialmente, só aprovo com contrapartidas claras de mobilidade, saúde e segurança. Se esses três pontos não fecharem, prefiro investir em outras ações para energia como a própria resposta à demanda, baterias e tarifas que sinalizem eficiência antes de mexer no relógio. Quando temos um tema tão amplo e com impacto direto sobre toda a sociedade, o mais adequado é ampliar a participação, dar mais visibilidade técnica e garantir que a operação do nosso sistema seja compreendida por todos. Só assim teremos uma decisão acertada e uma aplicação que não crie gargalos, principalmente para quem mais precisa se beneficiar. Somente como notícia, a Comissão de Saúde da Câmara aprovou um projeto que proíbe o horário de verão em todo o Brasil, citando impactos negativos à saúde e pouca economia de energia. Notícia recente que bate com o que eu defendi e defendo: Comissão aprova proibição do horário de verão em todo o território nacional - Notícias - Portal da Câmara dos Deputados. Visões como essas aumentam cada vez mais que se tenham debates para entendermos todas as questões envolvidas.
#horariodeverao #noticiadeenergia #setoreletrico Sobre o autor Felipe Figueiró é engenheiro eletricista, com dois MBAs focados em inovação, liderança e inteligência de mercado. Atua há mais de 11 anos no setor elétrico e tem como visão transformar dados em estratégias inteligentes e eficientes.
Nem tudo é luz: por que ainda temos dúvidas sobre o horário de verão











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