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O Paradoxo Renovável: Como o Brasil Desperdiça Energia Limpa e Ameaça o Futuro do Setor

O Paradoxo Renovável: Como o Brasil Desperdiça Energia Limpa e Ameaça o Futuro do Setor

Por Daniel Pansarella | Energy Channel

 

A Crise que Ninguém Esperava

O Brasil vive um paradoxo que expõe as fragilidades de sua matriz energética. Ao mesmo tempo em que se consolida como potência global em energia renovável, com investimentos que ultrapassam R$ 380 bilhões na última década, o país é forçado a desperdiçar uma parcela crescente de sua produção limpa.


O fenômeno, conhecido como constrained-off, representa a redução ou interrupção da geração de energia eólica e solar, mesmo em condições ideais de vento e sol. A medida, acionada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), visa garantir a estabilidade da rede, mas revela um problema estrutural que ameaça a viabilidade econômica do setor.



 

Em novembro de 2025, o impacto atingiu níveis alarmantes. Um levantamento da consultoria ePowerBay, que monitora aproximadamente 240 conjuntos de geração, revelou que as perdas percentuais para os 20 empreendimentos mais afetados variaram de 38,45% a 67,96% para a fonte eólica e de 30,36% a 55,16% para a solar. Esses cortes representam um aumento de 230% em relação ao ano anterior, gerando perdas financeiras que ultrapassam os R$ 6 bilhões desde 2024, segundo estimativas da consultoria Aurora Energy Research.

 

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O Gargalo que Paralisa o Setor

A região Nordeste, epicentro da crise, concentra a maior parte das usinas renováveis afetadas pelo constrained-off. Subestações como Janaúba 1 (com perdas de 68%), Sol do Sertão (65%) e Barreiras (62%) enfrentam restrições diárias que impedem o escoamento da energia produzida.


O problema é estrutural: a infraestrutura de transmissão não acompanhou o ritmo acelerado da expansão da capacidade de geração.

 

"Há um descompasso entre a infraestrutura de transmissão e a capacidade renovável instalada", avalia Matheus Dias, pesquisador sênior da Aurora Energy Research. "Construir uma nova linha leva em média cinco anos a mais do que uma usina de energia renovável." Enquanto mais da metade do consumo de eletricidade do país está no Sudeste, a maioria das usinas renováveis com constrained-off está no Nordeste mais pobre.

 

O problema é agravado pelo crescimento da geração distribuída – painéis solares em residências e empresas –, que reduz a demanda por energia da rede em determinados horários do dia. "O sistema começou a ter um excedente de energia, das 8h às 16h", explica Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). "O operador nos manda desligar todos os dias."

 

A indústria de energia solar estima que infraestrutura inadequada é responsável por cerca de 50% dos incidentes de constrained-off. O restante é atribuído ao excesso de oferta de energia e à falta de flexibilidade no sistema.

 

O Impacto Econômico que Afasta Investidores

O constrained-off não representa apenas desperdício de energia limpa. A imprevisibilidade dos cortes e a redução da receita dos geradores criam um ambiente de incerteza que afugenta investidores. A Auren Energia, por exemplo, devolveu as licenças para cinco parques eólicos planejados, citando o aumento do constrained-off como uma das razões.

 

"Temos membros que tiveram 70% de sua produção cortada no início da temporada. Isso é mortal", afirma Talita Porto, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). "Alguns empresários estão deixando o Brasil."

 

Os números confirmam a preocupação. O setor prevê queda das instalações de parques eólicos e solares em 2026, segundo ano seguido de desaceleração. Estudos indicam que o corte de geração fotovoltaica pode chegar a 27,7% em 2030, com níveis de cortes de geração solar centralizada chegando a 23,5% na média anual já em 2026.

 

A Tempestade Perfeita: Data Centers e Demanda Crescente

Enquanto o setor debate soluções para o constrained-off, uma nova ameaça se aproxima: a entrada massiva de data centers no Brasil. Especialistas apontam que a demanda crescente desses empreendimentos vai exigir muito da já tensionada rede elétrica. Com a abundância de água e energia limpa, o Brasil atrai investimentos na área, mas a infraestrutura não está preparada.

 

Mais de 20,5 mil consumidores migraram para o mercado livre de energia em busca de maior previsibilidade, mas a situação permanece crítica. A entrada de data centers, combinada com o constrained-off persistente, criará uma "tempestade perfeita" que pode comprometer a competitividade energética do país.

 

Sinais de Esperança: Petrobras, Vestas e Baterias

Nem tudo é pessimismo. A Petrobras embarcou em uma joint venture com a BP e vai operar um parque solar no Ceará, sinalizando confiança no setor apesar dos desafios. Além disso, Casa dos Ventos e Vestas anunciaram um parque eólico de R$ 5 bilhões no Piauí com 828 MW, energia para 2 milhões de residências e uma possível retomada do setor renovável.

 

O governo também avança em soluções estruturais. O primeiro leilão para contratação de armazenamento de energia em baterias está previsto para abril de 2026, um passo importante para dar flexibilidade ao sistema. A Brookfield, empresa canadense, está de olho nesse mercado, vendo baterias como a próxima fronteira do setor.

 

As Soluções em Debate

Para Alecio Fernandes, CEO da consultoria especializada Carpe Vie Engenharia, a solução passa por uma combinação de medidas regulatórias e investimentos em infraestrutura. A empresa defende a modernização da rede de transmissão, a implementação de sistemas de armazenamento de energia em baterias e a criação de um marco regulatório que incentive a flexibilidade e a resposta à demanda.

 

Em novembro de 2025, foi sancionada a Lei nº 15.269, que prevê a compensação parcial aos geradores afetados pelos cortes. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também aprovou um plano para cortar o excedente de energia renovável, mas a medida é vista como um paliativo.

 

O governo federal estima que serão necessários quase R$ 40 bilhões em investimentos até 2039 para construir 8.400 km de novas linhas de transmissão. Esse investimento é fundamental para resolver o gargalo que hoje paralisa o setor.

 

O Ponto de Inflexão

O Brasil está em um ponto de inflexão. A capacidade de superar o paradoxo do desperdício de energia limpa definirá não apenas o ritmo da transição energética, mas também a competitividade da economia brasileira no cenário global. A janela para ação é estreita. Sem investimentos robustos em transmissão, armazenamento e regulamentação adequada, o país corre o risco de ver seu potencial renovável desperdiçado enquanto a demanda por energia cresce exponencialmente com a chegada de data centers e a eletrificação da economia.

 

A solução existe. O desafio agora é implementá-la antes que seja tarde demais.

 

Dados-Chave (Novembro 2025)

Métrica

Valor

Conjuntos monitorados pelo ONS

~240

Perdas eólica (mín-máx)

38,45% - 67,96%

Perdas solar (mín-máx)

30,36% - 55,16%

Aumento de curtailment (YoY)

230%

Perdas financeiras (desde 2024)

R$ 6 bilhões

Subestação mais afetada

Janaúba 1 (68%)

Investimento necessário (até 2039)

R$ 40 bilhões

Novas linhas de transmissão

8.400 km

Previsão de cortes solares (2030)

27,7%

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