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Por que a infraestrutura de transmissão se tornou o eixo estratégico da transição energética

Por Laís Víctor – Especialista em energias renováveis e Diretora executiva


Por que a infraestrutura de transmissão se tornou o eixo estratégico da transição energética

A expansão acelerada da energia solar e eólica no Brasil está empurrando a infraestrutura de transmissão para um ponto de inflexão histórico. Nunca produzimos tanta energia limpa e competitiva e nunca dependemos tanto da capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) para escoar esse potencial. Nos polos eólicos do Nordeste e nos crescentes complexos solares de Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso, a geração cresce em ritmo muito superior ao avanço da rede, criando desafios que já não cabem no modelo tradicional de planejamento.


Estudos recentes da EPE e do ONS, publicados ao longo de 2025, deixam claro que o país entrou em uma era em que não basta expandir a geração: é preciso garantir, com urgência, infraestrutura para transportá-la. Na prática, a disputa por capacidade de escoamento ganha proporções inéditas, sinalizando que a transmissão se tornou o ‘novo centro nervoso’ da transição energética. Sem reforços estruturantes, novos corredores de longa distância e soluções avançadas de controle e estabilidade, o Brasil corre o risco de frear justamente o setor que mais cresce e mais atrai investimentos, o das renováveis.


Mais do que um desafio técnico, estamos diante de uma reconfiguração estratégica.


A complexidade do sistema, os gargalos regionais e a competição por pontos de conexão exigem um planejamento mais dinâmico, integrado e inteligente. A rede, antes bastidor, assume agora protagonismo. E compreender essa transformação é essencial para quem atua, investe ou acompanha a transição energética brasileira.


A pressão crescente da geração renovável sobre o SIN

O Brasil vive, nos últimos anos, uma das maiores expansões renováveis do mundo um movimento que mudou de escala e de velocidade. Entre janeiro e agosto de 2025, 71 usinas de geração centralizada entraram em operação, totalizando 4,47 GW adicionados ao sistema, segundo dados da ANEEL. A maior parte desse avanço veio exatamente das fontes que mais transformam o setor: solar e eólica.


Mas esse crescimento não ocorre no vazio. Ele se concentra justamente em regiões onde a infraestrutura existente já opera próxima de seus limites físicos e operativos. A Programação de Estudos de Transmissão 2025, da EPE, mostra com clareza que o Nordeste permanece como o principal exportador líquido de energia renovável, pressionando a necessidade de ampliar rapidamente a transferência para o Sudeste e o Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, a Região Norte enfrenta desafios estruturais de resiliência e atendimento, com estados como Amazonas, Amapá e Roraima demandando estudos específicos para reforços e soluções regionais.


No interior do país, áreas de forte expansão solar e híbrida, como Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rio Grande do Norte, se tornaram pontos recorrentes de atenção em análises de curto-circuito, controle de tensão e carregamento de linhas. São sinais claros de que a rede, em várias subáreas do SIN, está atingindo níveis de complexidade e saturação que exigem novos critérios de planejamento.


Além disso, a entrada massiva de projetos eólicos e solares no LRCAP/2025 revela que a disputa por capacidade de escoamento deixou de ser um cenário futuro: ela já está acontecendo. Do meu ponto de vista, essa corrida por conexões reforça a urgência de priorizar corredores de transmissão e reforços estruturantes antes que os gargalos inviabilizem ou atrasem investimentos que são essenciais para a trajetória renovável do país.


O avanço dos leilões de transmissão e a nova lógica de investimentos


O avanço dos leilões de transmissão evidencia, com nitidez, a mudança estrutural pela qual o setor elétrico brasileiro está passando. Não se trata apenas de expandir o mapa da rede: esse pacote inaugura uma agenda que prioriza reforços estruturantes, modernização de ativos e adequações essenciais para sustentar a nova escala da geração renovável no país.


Com o avanço contínuo das usinas solares e eólicas, esse movimento tende a se intensificar. O pipeline de leilões futuros deverá se tornar ainda mais robusto, incorporando soluções sofisticadas para atender regiões que já operam no limite. Entre as prioridades estão as linhas de longa distância para escoar a produção do Nordeste hoje o maior polo exportador de energia renovável do Brasil e os reforços no eixo Centro-Oeste–Sudeste, fundamentais para absorver o crescimento acelerado dos complexos solares, híbridos e agroenergéticos que se consolidam nessas áreas. Nas regiões metropolitanas, a demanda é diferente, mas igualmente urgente: melhorias de confiabilidade e modernização de infraestrutura para evitar sobrecargas em sistemas cada vez mais digitalizados. Já na Amazônia, os estudos indicam que a integração de sistemas isolados deve ganhar relevância, combinando segurança energética, otimização de custos e impactos socioambientais positivos.


Esse conjunto de investimentos não é apenas oportuno é absolutamente imprescindível. Sem novas linhas, reforços estruturais e soluções técnicas capazes de acompanhar a velocidade da transição energética, o país corre o risco de comprometer o escoamento da própria energia limpa que o colocou em posição de destaque global. Por isso, os leilões de transmissão deixam de ser meros mecanismos regulatórios para assumir um papel estratégico: eles se tornam o elo que garante continuidade, confiabilidade e pleno aproveitamento da expansão solar e eólica que impulsiona o futuro energético do Brasil.


Desafios emergentes: curadoria de conexões e competição pela rede

O Brasil já vive, de forma muito clara, uma verdadeira disputa por capacidade de escoamento. A procura por acessos para novos projetos solares, eólicos e híbridos cresce em um ritmo que supera a disponibilidade física da rede em diversas subestações do país. Essa pressão expõe um conjunto de desafios que não pode mais ser tratado como pontual ou conjuntural. A fila de pedidos de conexão avança mais rapidamente do que a expansão da infraestrutura, gerando competição direta entre projetos de portes distintos que, muitas vezes, disputam o mesmo espaço elétrico. Ao mesmo tempo, cresce a demanda por critérios mais transparentes e previsíveis sobre a capacidade remanescente dos barramentos informação essencial para orientar investidores, desenvolvedores e operadores de mercado.


Do meu ponto de vista, esse cenário exige uma transformação no papel dos planejadores e reguladores. Mais do que analisar solicitações de acesso individualmente, será necessário adotar uma lógica de curadoria de projetos, priorizando aqueles que maximizam o benefício sistêmico, trazem estabilidade ao SIN e apresentam maior maturidade técnica. Sem uma expansão coordenada da rede e sem mecanismos claros de priorização, o país corre o risco de enfrentar atrasos justamente nas energias que precisa para sustentar seu crescimento fontes renováveis que já são competitivas, atraem capital global e posicionam o Brasil como protagonista na transição energética.


Transmissão é a nova fronteira da transição energética brasileira

A expansão das fontes renováveis levou o Brasil a uma posição de destaque na corrida global pela descarbonização. No entanto, chegamos a um ponto em que apenas gerar energia limpa já não é suficiente. O verdadeiro desafio e a grande oportunidade está agora em transportar essa energia com segurança, eficiência e visão de longo prazo.

A infraestrutura de transmissão, por muitos anos tratada como um componente silencioso do setor elétrico, assumiu definitivamente o papel de eixo estratégico da transição energética. O país precisa avançar com robustez regulatória, planejamento integrado e celeridade na execução de estudos e leilões, além de incorporar soluções tecnológicas de controle, armazenamento e flexibilidade que permitam acompanhar a velocidade da expansão solar e eólica.


Hoje, o que está em jogo vai muito além da capacidade de fluxo de potência entre regiões. Estamos falando da condição do Brasil de preservar sua vantagem competitiva global, atrair novos investimentos, criar empregos de qualidade e sustentar uma matriz energética que seja, de fato, limpa, descentralizada e resiliente. Cada reforço de rede, cada corredor de transmissão e cada melhoria de confiabilidade se traduzem em mais segurança para o sistema e mais previsibilidade para quem investe.


Se queremos manter o protagonismo renovável que conquistamos, precisamos compreender que a transmissão não é apenas infraestrutura: é o caminho que viabiliza o futuro energético do Brasil. E é justamente nessa fronteira técnica, econômica e estratégica que se decidirá a velocidade e a profundidade da nossa transição para uma economia de baixo carbono.


Sobre a autora 

Laís Víctor é especialista em energias renováveis e diretora executiva de parcerias, com 15 anos de atuação no setor de energia. Sua atuação inclui o desenvolvimento de negócios, estruturação de alianças estratégicas e apoio à atração de investimentos para projetos de transição energética, com foco na construção de ecossistemas sustentáveis e inovação no mercado global de renováveis. 


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