Brasil Atrasado no Armazenamento de Energia Pode Perder Até 11% da Geração Renovável
- EnergyChannel Brasil
- 8 de ago.
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País desperdiça oportunidades estratégicas enquanto gigantes globais avançam em baterias

Enquanto o mundo acelera o passo rumo a uma matriz energética confiável e limpa, o Brasil ainda patina em uma das peças-chave da transição energética: o armazenamento.
Em 2024, o país instalou apenas 269 MWh de baterias estacionárias uma cifra modesta diante dos 5,6 GW de potência solar adicionada no mesmo período. Para se ter ideia, hoje o Brasil conecta mais de 20 MWp de energia solar por dia, mas armazena quase nada disso. O resultado? Energia perdida.
E o alerta é grave: estudos apontam que, até 2035, o Brasil poderá desperdiçar até 11% da geração renovável no Nordeste por falta de infraestrutura de armazenamento. Não é mais uma questão técnica, é uma decisão estratégica nacional.
Mundo avança e rápido
Em contraste com o ritmo lento brasileiro, países como Austrália, Estados Unidos e Alemanha já tratam o armazenamento como prioridade industrial e energética. Apenas no primeiro trimestre de 2025, os australianos destinaram US$ 2,4 bilhões à construção de baterias de grande porte. Nos EUA, a capacidade instalada de armazenamento ultrapassou 12 GW (ou 37 GWh), com custos já abaixo dos US$ 300/kWh.
Na Alemanha, o volume de grandes sistemas saltou impressionantes 910% em um ano.
O sucesso desses países não veio por acaso. Todos combinaram regulação clara, política industrial robusta e coordenação entre níveis de governo. O Brasil, apesar de contar com vantagens naturais e estruturais únicas como sol abundante, vento constante, hidrelétricas com reservatórios, biomassa, gás natural e uma das maiores reservas de lítio do mundo ainda carece de escala, incentivos e cadeia industrial estruturada.
Cadeia travada e potencial desperdiçado
Hoje, os impostos sobre baterias no Brasil ultrapassam 80%. A política de conteúdo local é tímida. E, embora tenhamos minas de lítio estratégicas em Minas Gerais, a maior parte do insumo é exportada sem agregação de valor. Isso cria um paradoxo: temos os recursos, mas não temos o mercado.
Atrair fabricantes e consolidar um ecossistema nacional de armazenamento vai exigir mais do que boas intenções. É preciso criar demanda, oferecer previsibilidade regulatória e lançar políticas industriais reais com incentivos sólidos e visão de longo prazo.
Os primeiros sinais e o desafio do timing
Há movimentações no radar. Um leilão de reserva de capacidade para armazenamento está previsto para o segundo semestre de 2025. A Petrobras já começa a estudar sua entrada no setor. Mas o tempo joga contra. Cada GWh de bateria instalado hoje representa:
Energia que deixará de ser desperdiçada
Apagões que poderão ser evitados
Geração solar e eólica que poderá ser melhor aproveitada
Empregos e tecnologia sendo gerados em solo nacional
A pergunta que o setor precisa responder não é mais se devemos investir em armazenamento. A questão agora é: vamos liderar essa transformação ou continuaremos exportando apenas sol, vento e lítio?
O futuro da energia e da economia digital será definido por quem sabe armazenar o que produz. E o Brasil tem tudo para ser esse país. Mas precisa agir. Já.
Brasil Atrasado no Armazenamento de Energia Pode Perder Até 11% da Geração Renovável