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COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática

A COP30, realizada em Belém, foi descrita por muitos como “a COP da verdade”. O rótulo não é gratuito: pela primeira vez, o encontro expôs de forma crua as contradições da governança climática mundial.


COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática
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De um lado, governos que ainda se recusam a levar a sério os alertas do IPCC e que resistem a qualquer tentativa de traçar um “mapa do caminho” para o abandono dos combustíveis fósseis.


COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática
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De outro, países e setores da sociedade civil que decidiram escancarar a desgovernança e denunciar o caráter ritualístico das COPs, vistas por críticos como rodadas anuais de autoengano coletivo.


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Mas reduzir a COP30 a esse embate seria simplificar demais. O evento, apesar das falhas logísticas problemas de infraestrutura em Belém, episódios de insegurança em manifestações que extrapolaram protocolos da ONU e até tormentas tropicais que atrapalharam a organização, conseguiu algo inédito: transformar o debate climático em pauta popular.


O tema deixou de ser restrito a diplomatas e especialistas e passou a ocupar conversas em grupos de família, igrejas, ambientes de trabalho e até arquibancadas de futebol. Esse deslocamento do debate para o cotidiano é, por si só, um resultado histórico.


O Brasil no centro da geopolítica climática


A escolha de Belém como sede não foi apenas um gesto simbólico. Colocou o Brasil no centro da geopolítica climática, reforçando sua posição como potência verde mundial. A Amazônia, antes vista apenas como território a ser protegido, tornou-se ativo estratégico em negociações globais. O Brasil mostrou que pode ser ponte entre o Norte Global e o Sul Global, capaz de dialogar com Europa e Estados Unidos, mas também de liderar junto a Índia, China e países africanos.


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Esse protagonismo ocorre em um momento de transição da ordem mundial. A guerra comercial e a tensão de uma nova guerra fria reduziram o peso da Europa e dos EUA, enquanto Ásia, Brasil e África emergem como polos decisivos. A COP30 refletiu esse rearranjo: não há mais hegemonia única, mas uma disputa de narrativas e interesses que torna qualquer acordo mais delicado.


Precificação de carbono: o preço da poluição


Um dos pontos centrais das discussões foi a precificação do carbono. Para quem não está familiarizado, trata-se de colocar um “preço” sobre cada tonelada de dióxido de carbono (CO₂) emitida. A lógica é simples: se poluir custa dinheiro, empresas e governos terão incentivo para reduzir suas emissões.


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Existem dois mecanismos principais:

• Taxa de carbono: funciona como um imposto. Cada tonelada de CO₂ emitida gera um custo direto.

• Mercado de carbono: empresas recebem limites de emissão. Se poluem menos, podem vender créditos para outras que poluem mais.


Na prática, porém, o sistema ainda é limitado. Até a primeira década deste século, apenas 5% das emissões globais estavam cobertas por algum tipo de precificação. Hoje, esse número subiu para cerca de 28%.


É um avanço, mas ainda insuficiente. Além disso, os chamados “créditos de carbono” sofrem com problemas de credibilidade: muitos projetos que dizem compensar emissões não conseguem comprovar de fato o impacto. Estudos mostram que apenas 5% dos offsets avaliados são realmente confiáveis.


A pegada de carbono de cada cidadão


É comum pensar que precificação de carbono e metas climáticas dizem respeito apenas a governos e grandes empresas. Mas cada cidadão tem sua pegada de carbono — isto é, a quantidade de gases de efeito estufa emitida direta ou indiretamente por suas atividades diárias.


• Transporte: andar de carro movido a gasolina ou viajar de avião aumenta significativamente a pegada.


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• Alimentação: dietas ricas em carne vermelha têm impacto maior, devido às emissões da pecuária.

• Consumo: roupas, eletrônicos e bens de consumo carregam emissões embutidas em sua produção e transporte.

• Energia doméstica: uso de eletricidade proveniente de fontes fósseis também pesa na conta.

Para ilustrar:

• Família urbana de classe média: usa carro diariamente, viaja de avião uma vez por ano, consome carne regularmente e utiliza eletrodomésticos intensivamente. Sua pegada pode chegar a 10 toneladas de CO₂ por pessoa ao ano.

• Família rural de baixo consumo: utiliza transporte coletivo ou bicicleta, consome alimentos locais e menos industrializados, tem menor acesso a eletrônicos. Sua pegada pode ser de 2 a 3 toneladas de CO₂ por pessoa ao ano.


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• Executivo globalizado: viaja de avião várias vezes ao ano, consome produtos importados e tem estilo de vida de alto consumo. Sua pegada pode ultrapassar 20 toneladas de CO₂ anuais.


Esses exemplos mostram que a participação de cada pessoa nesse momento é decisiva. Não se trata apenas de esperar que governos criem políticas ou que empresas inovem. O cidadão comum pode reduzir sua pegada ao optar por transporte coletivo, bicicletas, energias renováveis, reciclagem e consumo consciente. Mais do que isso: quando a sociedade pressiona por mudanças, cria ambiente político favorável para que medidas estruturais sejam adotadas.


Materiais críticos e a nova geopolítica


Outro tema que ganhou força na COP30 foi a disputa por materiais críticos e terras raras, essenciais para tecnologias de baixo carbono. Painéis solares, turbinas eólicas, baterias de carros elétricos e sistemas de armazenamento dependem de minerais como lítio, cobalto, níquel e elementos raros como neodímio e disprósio.

Esses materiais não estão distribuídos de forma homogênea pelo planeta. Alguns países concentram reservas estratégicas:


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• China domina a cadeia de processamento de terras raras, tornando-se peça-chave na transição energética.

• África possui grandes reservas de cobalto e lítio, especialmente na República Democrática do Congo.

• Brasil tem potencial em minerais críticos, além de sua matriz energética limpa.

• Índia busca ampliar sua presença no mercado de baterias e tecnologias renováveis.


Mas o interesse nesses materiais não se limita às tecnologias verdes. Eles também são usados na produção de armas de alta tecnologia, como foguetes, mísseis guiados e sistemas de defesa avançados. Essa dupla utilização aumenta ainda mais as tensões geopolíticas, pois países não disputam apenas o futuro energético, mas também o domínio militar. Quem controla o fornecimento de materiais críticos terá poder estratégico nas próximas décadas, tanto na economia quanto na defesa.


Essa disputa por recursos já é parte da nova ordem mundial. Países começam a disputar territórios e influências onde esses materiais estão em abundância. A transição energética, portanto, não é apenas uma questão ambiental, mas também geopolítica.


Críticas e contranarrativas


As críticas à COP30 foram abundantes. Organizações ambientalistas afirmaram que o texto final não trata a crise como crise.


COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática

Analistas apontaram que, sem um compromisso explícito de redução do uso de carvão, petróleo e gás, o mundo caminha para um aumento de temperatura de quase 3ºC até 2100 praticamente o dobro da meta de estabilização em torno de 1,5ºC. Outros denunciaram erros éticos na forma como se discute a abolição dos fósseis, acusando governos de proteger interesses econômicos em detrimento da sobrevivência planetária.


No entanto, é preciso relativizar. Não houve descumprimento do Acordo de Paris em sua essência. O que se viu foi uma avalanche de desinformação e opiniões pobres, muitas vezes ideológicas ou movidas pelo medo da mudança. A essência do acordo permanece viva, mas precisa ser constantemente defendida contra a erosão da confiança pública.


O dilema da humanidade


O sucesso da COP30 não pode ser medido por manchetes ou opiniões avulsas. O verdadeiro teste será a implementação dos documentos e negociações nos próximos anos. A humanidade vive um momento decisivo: escolher entre ampliar impérios econômicos ou salvar o planeta. Os donos do poder precisam ouvir seus povos, não apenas movimentar engrenagens de dominação e colonialismo.


COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática

A COP30 mostrou que não há mais como fugir da escolha. Ou seguimos presos ao rentismo fóssil, ou inauguramos uma era de cooperação global capaz de garantir futuro às próximas gerações.


Fechamento analítico


A COP30 foi criticada como mais uma rodada de promessas não cumpridas. Mas, ao abrir o debate para a sociedade, ao colocar China, Índia, Brasil e África no centro da geopolítica climática e ao refletir a transição para uma nova ordem mundial, ela cumpriu um papel essencial. O sucesso não está em decretos imediatos, mas em ter escancarado a urgência e a pluralidade da crise climática.


Agora, é preciso dar vazão aos documentos e negociações e ver como se encaixarão neste momento delicado.


COP30: Entre o autoengano coletivo e o despertar de uma nova ordem climática

A humanidade precisa decidir se continuará a ampliar impérios econômicos ou se terá coragem de salvar o planeta. A COP30 não foi um fracasso: foi o início de uma nova fase, marcada por pluralidade, tensões globais e pela centralidade dos emergentes como protagonistas da transição energética. 



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2 comentários

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Helena
01 de dez.
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Ótimo Conteúdo

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01 de dez.
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O artigo tem por objetivo ajudar as pessoas a despertarem para a questão do clima e do futuro do nosso planeta.

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