ENERGIA NO BRASIL: CONTA MAIS CARA E SEM PAPAI NOEL À VISTA
- Arthur Oliveira
- há 10 horas
- 6 min de leitura
Volto a tocar nesse ponto porque ainda tem muito consumidor acreditando em milagres. Muita gente sonha ou espera por quedas drásticas nos preços da energia, sem ter a menor ideia do que está acontecendo no setor seja no aspecto regulatório ou hidrológico. Ainda tem quem acredite em Papai Noel. Esqueçam 2022 e 2023 faz parte de um passado anômalo.

O mercado de energia brasileiro retornou à sua realidade e o mesmo enfrentou uma alta volatilidade na última semana de junho de 2025, puxada pela divulgação do Programa Mensal da Operação (PMO) e por expectativas de menor carga e chuvas reduzidas.
Aqui, compartilho minha visão sobre os movimentos de preços dos contratos de energia, com base nos dados da BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia), explico os diferentes prazos contratuais e os impactos do curtailment e das mudanças regulatórias como a MP 1.300/2025 e a Consulta Pública do MME (CP) 187 no setor.
Também comento como tudo isso pode refletir nos preços do Ambiente de Contratação Livre (ACL) e no Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) futuro.
ALTA VOLATILIDADE NOS CONTRATOS DE ENERGIA
CONTRATOS DE JULHO E AGOSTO
O PMO trouxe previsões de menor carga e chuvas abaixo do esperado, o que mexeu fortemente com os preços dos contratos de energia convencional na plataforma EHUB da BBCE. Esses contratos de curto e médio prazo (entre 1 mês e 1 ano) são sazonais e geralmente usados para atender demandas específicas, como a complementação da geração térmica em períodos de baixa hidrologia.
O resultado: os contratos de julho subiram 9,09%, chegando a R$ 198,50 por MWh. Já os contratos de agosto tiveram uma alta ainda mais expressiva: de R$ 250 para R$ 288,22 por MWh – estamos falando de energia convencional. Isso mostra como o mercado é sensível às projeções operacionais e como esses contratos são altamente expostos ao PLD, especialmente nos ajustes de curtíssimo prazo (de intradiário até 1 mês), mesmo que isso não tenha sido mencionado diretamente nesses casos. A volatilidade está ali, e é clara.
CONTRATOS DE LONGO PRAZO
Enquanto os contratos de curto prazo dispararam, os de médio prazo (como os do quarto trimestre de 2025) ficaram praticamente estáveis. A energia convencional recuou 1,08%, fechando em R$ 299,99 por MWh, e a energia incentivada ficou em R$ 330,49 por MWh.

Esses contratos, normalmente, oferecem alguma proteção contra riscos hidrológicos e são usados em estratégias híbridas, tanto no ACL quanto no Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Já os contratos para 2026 e 2027 considerados de longo prazo também caíram. A energia convencional de junho de 2026, por exemplo, ficou em R$ 231,50 por MWh (queda de 4,13%), e a incentivada em R$ 261,45 por MWh (queda de 4,01%).
Esses contratos são voltados para novos projetos de geração, como usinas eólicas e solares, e servem de base para financiamentos, trazendo um pouco mais de estabilidade no preço. Resumindo: os preços tendem a subir, mas muitos consumidores ainda não perceberam isso.
IMPACTOS DO CURTAILMENT NO MERCADO DE ENERGIA
EFEITOS NOS PREÇOS NO ACL E NO PLD FUTURO
A inclusão da MMGD (geração distribuída) no rateio do curtailment pode afetar diretamente os preços no ACL e no PLD futuro. Hoje, os cortes que chegaram a 3.000 MW médios no primeiro quadrimestre de 2025 (contra 450 MW em 2023) recaem principalmente sobre as usinas centralizadas. Isso aumenta os custos operacionais dessas usinas e pressiona os preços no ACL, principalmente nos contratos de curto prazo como os de julho e agosto. Se o rateio for dividido com a MMGD, a expectativa do ONS é de que os cortes nas usinas centralizadas caiam pela metade, o que pode aliviar os custos e estabilizar, no início, um pouco os preços no ACL. Entretanto, está tema ainda está um pouco longe de ter um fim “amigável”.
Mas a proposta do Ministério da Fazenda de aplicar ajustes contábeis à MMGD também pode gerar custos extras para esse segmento, que hoje não tem supervisão direta do ONS. Isso pode fazer com que os preços subam para os consumidores finais no ACL, especialmente em contratos de curto prazo, mais afetados pelo PLD. Em menor grau, isso também afeta os contratos de médio prazo.

No PLD, a ideia de reduzir a sobreoferta com um rateio proporcional pode ajudar a mitigar picos de preço em períodos de geração renovável elevada — o que, em tese, beneficiaria os contratos de curtíssimo prazo. O problema é que, sem controle físico sobre a MMGD, essa medida pode ter eficácia limitada e manter a volatilidade no curto prazo.
IMPACTO REGULATÓRIO: COMO A MP 1.300/2025 E A CP 187 PODEM MEXER COM OS PREÇOS DA ENERGIA
A MP 1.300/2025 e a Consulta Pública 187 do MME trazem mudanças significativas no setor elétrico e devem impactar diretamente os preços no ACL e o PLD. A seguir, compartilho uma leitura objetiva dos principais efeitos dessas medidas, com base nos dispositivos já apresentados.
FIM DOS DESCONTOS E NOVOS ENCARGOS
A MP 1.300/2025 prevê o fim dos descontos tarifários a partir de 31/12/2025 (Art. 2º, §1º-P). Com isso, contratos de longo prazo — principalmente para 2026 e 2027 — devem ficar mais caros, já que passam a incorporar os custos do Supridor de Última Instância (SUI), conforme o Art. 15-A. Isso pressiona o PLD e eleva os preços médios no ACL, pois os custos extras serão repassados.

CONSUMIDOR DE BAIXA TENSÃO EXPOTO AO ACL
Outro ponto relevante é a migração obrigatória dos consumidores de baixa tensão para o mercado livre até 2027 (Art. 15, §12). Isso expõe esse público à volatilidade do PLD e aos custos extras que até então eram amortizados no mercado regulado. A tendência é que os contratos de curto prazo fiquem mais caros para esse perfil de consumidor.
RENOVÁVEIS MENOS VIÁVEIS
A retirada de incentivos aos geradores renováveis, também prevista na MP, aumenta os custos de capital e reduz a atratividade de novos projetos, como usinas solares e eólicas. Menos oferta futura e menos competição podem significar preços mais altos no médio e longo prazo.
ENCARGOS EXTRAORDINÁRIOS NA CP 187
A CP 187 reforça esse cenário ao prever novos encargos para custear medidas como a mitigação do curtailment e investimentos em transmissão. Esses encargos devem ser incorporados ao PLD, o que também pressiona os contratos no ACL, especialmente os de curto prazo.
AUTOPRODUÇÃO POR EQUIPARAÇÃO LIMITADA A GRANDES PLAYERS
Um dos pontos mais críticos da CP 187 é a regulamentação da Autoprodução por Equiparação: para ser classificado como autoprodutor, será necessário ter demanda mínima de 30.000 kW (Art. 16-A). Isso praticamente exclui os médios e pequenos consumidores da autoprodução, reduzindo a concorrência e elevando os preços no mercado livre, inclusive nos contratos de médio e longo prazo.
EFEITOS ESPERADOS NO MERCADO
PLD: Deve subir com os novos encargos da CP 187 e os custos do SUI trazidos pela MP.
Preços no ACL: A soma dos fatores fim dos subsídios, encargos extras e menor concorrência tende a gerar alta generalizada em todos os prazos.
Riscos Setoriais: Sem incentivos, os projetos renováveis ficam menos viáveis, o que pode frear novos investimentos e pressionar ainda mais os preços.
Impacto nos Consumidores: Quem for migrar para o ACL, especialmente baixa tensão, vai enfrentar mais custos e volatilidade.
CONCLUSÃO
A volatilidade vista em junho de 2025 mostra o quanto o mercado está sensível a condições operacionais e climáticas. Os contratos de curto prazo sazonais e fortemente ligados ao PLD já estão reagindo, enquanto os de médio e longo prazo, como os de 2025 a 2027 (chegando a R$ 330,49 por MWh – energia incentivada), ainda oferecem alguma estabilidade.
Mas não por muito tempo. O debate sobre o curtailment e as mudanças trazidas pela MP 1.300/2025 e a CP 187 deixa claro que o mercado vai enfrentar ainda mais incertezas. A inclusão da MMGD nos cortes e o fim dos subsídios podem até ajudar a estabilizar preços no longo prazo, mas trarão altas imediatas e mais exposição à volatilidade especialmente para quem menos entende ou tem menos estrutura para lidar com isso. O consumidor de baixa tensão e quem opera com contratos de curto e médio prazo que se prepare. Porque a conta vai chegar.
Fontes:
MP 1.300/2025 (Diário Oficial da União, 21/05/2025).
Resolução CCEE nº 109/2024 (Classificação de prazos contratuais).
CP 187/2025 (ANEEL, extinção de subsídios).
Relatório ONS "Custos do Curtailment" (2024).
Terceira fase da Consulta Pública 45 de 2019
BBCE Curva Forward
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