O BESS do marketing é o branding: Armazena credibilidade, libera potência e entrega qualidade de energia ao seu negócio
- Tatiane Carolina

- há 4 dias
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No momento em que o setor atravessa uma transformação estrutural marcada por incentivos regulatórios ao armazenamento e por novos modelos de negócio, torna-se evidente que o verdadeiro diferencial competitivo das marcas não será mais apenas o hardware da solução, mas o capital de marca que as sustentará no mercado.
Em analogia ao sistema de baterias de armazenamento (BESS Battery Energy Storage System), o marketing estratégico também pode e deve funcionar como um sistema de armazenamento: branding = o ativo que armazena credibilidade; libera potência; entrega qualidade de energia às relações de mercado. Esse paradigma significa que o marketing de 2026 precisa ser planejado com visão de médio-longo prazo.

Em audiência pública da Comissão Mista da Medida Provisória 1.304/2025 se discutiu a importância estratégica, marco legal específico e modelos de negócios para a modernização e transição energética no Brasil. Com a publicação, o armazenamento de energia foi reconhecido como peça-chave deste momento.
Para players do setor que agregam soluções de armazenamento, a mensagem é clara: não basta ter produto ou tecnologia: será preciso conquistar a confiança do mercado, operar no na cadeia de valor e sustentar uma marca que comunique robustez, inovação e credibilidade. E, claro, executar bem esse posicionamento.
Neste contexto, o branding assume papel essencial, não apenas como apoio à comunicação, mas como alicerce estratégico que permite à empresa:
Posicionar-se como “trusted partner” em um ecossistema que está sendo amplamente reconfigurado;
Estabelecer uma proposta de valor clara junto a cadeia de valor;
Prolongar o ciclo de vida e retenção de clientes (o LTV do cliente) junto à marca;
Amortecer o impacto dos ciclos tecnológicos ou de custo (como “commoditização”) por meio de diferenciação de marca.
No plano de marketing para 2026, o desafio será então: como construir ou reforçar essa “marca-bateria” de modo que quando a onda de oportunidades (armazenamento, geração compartilhada, flexibilidade de rede, REIDI) vier, a marca já esteja carregada e pronta para fornecer energia de forma confiável.
Os modelos e medidas de brand equity ainda apresentam lacunas, mas há convergência entre os elementos-chave: consciência de marca (brand awareness), associações de marca (brand associations), qualidade percebida (perceived quality), lealdade à marca (brand loyalty) e ativos proprietários (patentes, canais). Além disso, emergem frameworks mais modernos, como os “5 Bs of modern branding” (brand equity, brand relevance, brand image, brand loyalty, brand portfolio) propostos por David Aaker em 2025, conforme imagem abaixo:

Num cenário onde os players podem ter múltiplas linhas (bateria, híbridos, sistemas integrados) e atuam em diferentes canais (B2B, B2B2C), a arquitetura de marca deve ser bem definida. O brand portfolio é um dos blocos críticos. Empresas que negligenciam a coerência de portfólio acabam diluindo o brand equity e elevando custos de comunicação.
A marca deve servir ao negócio: Cenário prático para 2026
Vamos considerar que um fabricante de sistemas de armazenamento deseja fazer um plano de branding para o Brasil, seguindo a analogia deste artigo, visando 2026:
“Aumentar as vendas de sistemas de armazenamento de energia (BESS) no segmento Comercial e Industrial (C&I) em 2026, com foco em projetos que otimizem custos na ponta, e reforcem o discurso de eficiência e confiabilidade no cliente final.”
Esse fabricante não busca apenas vender equipamentos, ele quer construir presença de marca onde o negócio de BESS realmente faz sentido econômico. E é por isso que o primeiro passo do plano não é de marketing, mas de mercado: entender onde há viabilidade técnica e financeira real.
1. Diagnóstico de Negócio:
Antes de comunicar, o fabricante precisa entender onde estão as oportunidades reais de negócio aqui no Brasil. Logo, o diagnóstico precisa responder a duas perguntas de negócio:
1.1 Onde estão os clientes que quero atingir?
O mercado de BESS C&I é, essencialmente, regional e tarifário. Ou seja, o potencial de vendas depende da combinação entre:
Concentração de UCs A4 - Tarifa Verde, pois é o perfil que mais se beneficia do deslocamento de consumo (C&I).
Custo da energia ponta vs. fora ponta - quanto maior o delta tarifário, maior o incentivo econômico.
Índice de maturidade solar - regiões com alta penetração de GD e baixa estabilidade da rede.
O fabricante pode construir um mapa de atratividade para direcionar o seu time de marketing.
1.2 Com quem vender e como estruturar canais
Em BESS, o canal é o motor do crescimento. O fabricante pode equilibrar três frentes:
Integradores premium / EPCistas técnicos → responsáveis por especificação e instalação.
Distribuidores especializados → responsáveis por capilaridade e suporte logístico.
Revendas estratégicas → responsáveis por atendimento local e pós-venda.

2. Diagnóstico de Marca: medir se a percepção acompanha o produto
O ideal é realizar pesquisas de awareness e credibilidade, avaliando:
Reconhecimento espontâneo da marca (“você conhece a marca X?”)
Confiança técnica percebida (engenharia, suporte, pós-venda)
Clareza do posicionamento (inovação, performance, confiabilidade)
Mas há um ponto de realismo que quero trazer aqui:
O mercado de BESS ainda está em maturação, muitas vezes não existe orçamento ou massa crítica de público suficiente para uma pesquisa formal.
Nesse caso, a estratégia deve ser exploratória e prática: Coletar feedback direto em eventos e feiras, monitorar menções em mídias técnicas, e mapear qualitativamente a percepção em conversas de campo. Em mercados emergentes, ouvir o mercado é a primeira pesquisa.
3. Estratégia de Branding-Marketing 2026: Transformar percepção em valor econômico
3.1 Posicionamento Estratégico direcionado ao time de marketing do fabricante:
“Soluções de armazenamento que permitem ao C&I reduzir custos na ponta e operar com segurança e estabilidade, mesmo em uma rede desafiadora.”
Esse discurso une valor funcional (otimização tarifária) com valor simbólico (autonomia e inovação) posicionando o fabricante como facilitador da transição energética real, não apenas vendedor de baterias.
3.2 Arquitetura de Marca
Definir se o BESS será: Marca independente (foco em inovação, diferenciação, margem maior); ou Submarca de um grupo (foco em confiança e escalabilidade).
A decisão deve considerar reconhecimento atual + risco de entrada.
Em segmentos C&I conservadores, a confiança institucional ainda pesa mais que o discurso de vanguarda.
3.3 Jornada de Marca com Canais
Não basta treinar o canal, é preciso formar pensamento de marca dentro dele.
Jornada de Marca com Integradores/EPCistas
Educar: masterclasses técnicas e conteúdos de engenharia aplicada (sem glamour, com verdade técnica).
Equipar: ferramentas de simulação, catálogos técnicos, ROI calculators em português.
Engajar: programas de certificação com storytelling (“Integrador Energia Segura”, “Storage Partner”).
Evidenciar: cases de clientes que economizaram, com dados regionais e provas reais.
Jornada de Marca com Distribuidores
Clarificar: materiais visuais e fichas técnicas consistentes.
Qualificar: treinamentos comerciais sobre value proposition, não apenas especificação.
Coordenar: campanhas de co-branding regionais (marca + distribuidor).
Fidelizar: incentivos baseados em NPS e recompra, não apenas volume.
Branding de canal não é sobre “vender mais”, é sobre reduzir atrito e aumentar convicção.
3.4 Métricas de Branding-Negócio
Antes de qualquer número, uma premissa: Métrica de marca só é útil se impactar métrica de negócio. Por isso, o fabricante deve monitorar indicadores financeiros e de percepção lado a lado, e entender como o marketing influencia cada um, conforme na imagem a seguir:

4. ROI e valor de marca
Quando o branding é desenhado para servir ao negócio, ele se converte em eficiência econômica. Em segmentos emergentes como armazenamento de energia (BESS), o investimento em branding ainda é visto por muitos como um “custo”. Mas, na prática, uma marca bem estruturada atua como redutor de risco, acelerador de decisão e ampliador de margem.
No caso de um fabricante de BESS voltado para o segmento C&I, o efeito do branding é especialmente mensurável em três dimensões, na minha visão:
Eficiência Comercial (CAC):
Quando a marca é reconhecida e confiável, o integrador ou distribuidor não precisa ser convencido, ele procura o equipamento, o que reduz o custo de aquisição por cliente (menos tempo de convencimento, menos visitas, menos follow-ups).
Retenção e Recorrência (LTV):
Um parceiro que confia na marca tende a comprar novamente, indicar e defender a escolha técnica, aumentando o ciclo de vida do relacionamento e o ticket médio.
Margem de Contribuição:
Marcas percebidas como referência técnica sofrem menos pressão por preço, pois vendem valor, não commodity. O cliente não compara apenas preço, mas credibilidade por projeto. Esse é o “ponto de virada” entre fazer marketing e fazer negócio.

Este modelo acima mostra como ações de branding tangíveis (como presença em eventos técnicos, conteúdo educacional e suporte de engenharia regional) atuam sobre variáveis do DRE, não sobre “likes”.
Mesmo com um investimento expressivo (ex: R$ 500 mil/ano em estrutura de marca, eventos e comunicação técnica), o ganho em eficiência comercial e margem compensa o valor em menos de 12 meses. Esse é o raciocínio que conecta diretamente o branding ao resultado financeiro, a marca deixa de ser um custo e passa a ser uma unidade de geração de resultado.
O seu marketing, portanto, precisa iniciar agora o planejamento para 2026 com essa mentalidade: o BESS do marketing é o branding.
Se você fabrica ou distribui equipamentos ou soluções de armazenamento, pergunte-se:
a) qual é o meu nível atual de brand equity?;
b) como vou construir ou reforçar esse ativo de marca em 2026?;
c) como mensurar e vincular esse ativo a resultados de negócio (CAC, LTV, churn, share)?
O timing é crítico, o mercado está se reconfigurando, e a marca que estiver “com carga total” sairá à frente. Vamos juntos armazenar credibilidade, liberar potência e entregar qualidade de energia para o seu negócio.
Me conta nos comentários se você também vê essa importância no investimento de branding da sua marca.
Tatiane Carolina Especialista em marketing e modelos de negócios no setor elétrico. Engenheira, MBA em Gerenciamento de Projetos e pós-graduanda em Comunicação Empresarial Transmídia pela ESPM, atua conectando engenharia e marketing no desenvolvimento de marcas, produtos e ecossistemas no setor de energia.
O BESS do marketing é o branding: Armazena credibilidade, libera potência e entrega qualidade de energia ao seu negócio











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