A Jornada da Mulher nas Energias Renováveis: Onde Estamos e Para Onde Vamos
- EnergyChannel Brasil
- há 13 horas
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A transição energética representa uma das maiores oportunidades desta geração, não apenas para reduzir emissões e enfrentar a crise climática, mas também para redesenhar o mercado de trabalho, os ambientes de liderança e os modelos organizacionais. Nesse movimento global, a presença da mulher nas energias renováveis deixa de ser apenas uma pauta de justiça social e passa a ser um pilar estratégico para inovação, produtividade e resiliência empresarial.

Embora o setor de renováveis apresente índices de participação feminina superiores aos de segmentos tradicionais de energia, como petróleo e gás, a equidade ainda está distante: estudos recentes mostram que mulheres ocupam cerca de um terço dos empregos no setor, e essa proporção diminui drasticamente à medida que avançamos para funções técnicas, de campo ou posições de alta liderança.
Um panorama histórico que molda o presente
Desde as primeiras décadas da eletrificação, passando pela industrialização e chegando à expansão das energias renováveis, o setor energético foi estruturado sobre bases masculinas: cursos de engenharia majoritariamente ocupados por homens, cadeias industriais rígidas e culturas corporativas pouco diversas.
Nos últimos 15 anos, movimentos globais aceleraram mudanças importantes, programas de capacitação, redes de mentoria, políticas de diversidade e campanhas públicas passaram a iluminar as desigualdades e abrir espaço para transformações.
Ainda assim, os dados revelam um cenário de avanços lentos: mulheres em cargos seniores representam menos de 20% em muitos mercados internacionais, segundo IRENA, IEA e REN21.
A sub-representação feminina no setor não tem uma única causa; trata-se de uma teia de fatores históricos, culturais, estruturais e sociais:
Vieses organizacionais: processos de recrutamento e promoção que valorizam trajetórias tradicionais, redes masculinas e experiências de campo pouco acessíveis às mulheres.
Barreiras educacionais e técnicas: menor participação feminina em cursos de engenharia, eletrotécnica, manutenção e áreas essenciais para O&M, projetos e EHS.
Ausência de role models: poucas líderes ocupando espaços públicos, recebendo prêmios ou sendo referências em eventos e publicações técnicas.
Jornadas dupla: carga doméstica e responsabilidades familiares desproporcionalmente atribuídas às mulheres, dificultando turnos longos, viagens e flexibilidades exigidas pelo setor.
Cultura operacional: ambientes de campo ainda pouco adaptados para diversidade, com pouca estrutura de apoio, flexibilidade e segurança.
Esses elementos criam um efeito cascata: menos formação técnica → menos candidaturas → menos mulheres contratadas → menor retenção → pouca presença em liderança.
Apesar dos desafios, não estamos diante de um cenário estático. Há uma transformação real em curso, impulsionada por políticas públicas, iniciativas privadas e movimentos internacionais:
- C3E (Clean Energy Education & Empowerment) e Equal by 30 criam redes de mentorias, premiações, compromissos públicos e visibilidade para mulheres no setor energético.
- Programas de capacitação em países da África, Ásia e América Latina formam mulheres em instalação, manutenção, empreendedorismo e operação de sistemas solares, com aumento comprovado de empregabilidade.
- Instituições como IRENA, IEA e REN21 passaram a exigir dados desagregados por gênero e incorporar metas explícitas em relatórios e recomendações.
- Empresas do setor adotam práticas transformadoras: metas de diversidade, programas de retorno pós-maternidade, políticas de flexibilidade, visibilidade interna e trilhas de carreira mais transparentes.
Para transformar participação em poder, visibilidade e remuneração justa, é necessário agir:
1. Políticas públicas: Coleta obrigatória de dados de gênero em editais, leilões e financiamentos verdes. Incentivos fiscais e regulatórios para empresas que atingirem metas de diversidade. Programa de certificação técnica em massa para mulheres (NR-10, NR-35, SCADA, PVSyst, inspeção IR).
2. Empresas e ecossistema corporativo: Metas claras de diversidade com indicadores de desempenho. Flexibilização responsável: escalas rotativas, home office. Políticas de cuidado: auxílio-creche, creches locais, licença parental compartilhada. Programas robustos de mentoria. Parceria com universidades para formar mulheres em áreas críticas como O&M e engenharia. Visibilidade: prêmios internos, participação em painéis, publicações técnicas.
3. Carreira individual: estratégia e posicionamento. Capacitação contínua em áreas técnicas de alta demanda. Construção de marca pessoal: artigos, webinars, palestras, cases de campo. Participação ativa em redes como C3E, Women in Energy e grupos regionais. Documentação de resultados: KPIs entregues, melhorias implantadas, economia gerada. Negociação consciente: usar dados e resultados para argumentar salário e promoções.
A presença das mulheres nas energias renováveis é significativa e crescente. A literatura técnica, a experiência das empresas e as pesquisas internacionais convergem em um ponto: equidade de gênero melhora desempenho, acelera inovação e fortalece resultados.
Um marco fundamental na promoção da equidade de gênero e no reconhecimento do talento feminino no setor energético é o Congresso Brasileiro Mulheres da Energia (CBME). Em 2026, o evento celebrará sua 5ª edição, consolidando-se como o principal fórum de debate e networking para profissionais femininas da área.
O CBME atrai a participação de mais de 1000 mulheres, sendo 100 delas palestrantes líderes e empreendedoras que, em painéis com diversos temas, compartilham insights cruciais sobre o futuro das energias renováveis e a transição energética.
Além de promover o diálogo técnico de alto nível, o congresso desempenha um papel vital no reconhecimento profissional, com a entrega de Prêmios (incluindo troféus), que celebram e valorizam a contribuição feminina em um mercado frequentemente dominado por homens.
A relevância do evento é inegável, e tive a honra de ser agraciada com o Prêmio Excelência Técnica durante a 4ª edição, realizada em 2025. Este reconhecimento, concedido pela Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), reforça a importância de dar visibilidade às realizações das mulheres na vanguarda da inovação e da técnica no Brasil.
O futuro das energias renováveis será liderado por quem souber integrar diversidade, conhecimento técnico e propósito.E as mulheres têm papel central nesta transformação.
Fontes: IEA, IRENA, REN21, C3E.org, UNDP.

Kátia Rezende Moreira – Analista de negócios O&M fotovoltaico, Gestora de parcerias estratégicas, Especialista B2B, Consultora comercial, Agente de soluções e oportunidades. Graduação em Comunicação social – Jornalismos e Gestão comercial (em andamento). Prêmio Excelência Técnica pelo Congresso Brasileiro mulheres da energia - ABGD 2025. Colunista do Portal Solar e EnergyChannel.
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