ANEEL abre tomada de subsídios: o futuro da Geração Distribuída está em jogo
- Renato Zimmermann
- há 8 minutos
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A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou no Diário Oficial da União em 4 de dezembro de 2025 a abertura da Tomada de Subsídios nº 23/2025, que trata da valoração dos custos e benefícios da micro e minigeração distribuída (MMGD).

O prazo para contribuições vai até 4 de março de 2026, e os relatórios técnicos divulgados neste mês de dezembro serão a base para a definição regulatória que impactará diretamente milhares de usinas solares em operação e em construção.
O que está em debate
• Geração Distribuída (GD): é o modelo em que consumidores produzem sua própria energia, geralmente por meio de painéis solares, e podem compensar excedentes na rede elétrica.
• Tomada de Subsídios: mecanismo de participação pública em que a ANEEL coleta contribuições técnicas e sociais para embasar decisões regulatórias.
• Valoração dos custos e benefícios da GD: trata de calcular, de forma justa, o impacto da GD sobre o sistema elétrico — desde redução de perdas na rede até custos de manutenção e equilíbrio tarifário.
• Recursos energéticos distribuídos (REDs): incluem geração solar, baterias, veículos elétricos e sistemas de gestão local.
• Redes inteligentes e microrredes: tecnologias que permitem maior automação, integração e resiliência, conectando pequenos geradores e consumidores em sistemas locais capazes de operar de forma independente em situações de crise.
O ponto de inflexão do mercado elétrico
O setor elétrico brasileiro vive um momento decisivo. A Lei 14.300/2022, em seu artigo 17, determinava que a ANEEL deveria apresentar a valoração dos custos e benefícios da GD em prazo definido. Esse prazo não foi cumprido. Paradoxalmente, o atraso acabou sendo providencial: o mercado ainda estava em expansão, e investidores preferiram ignorar a insegurança jurídica.
Entretanto, essa indefinição tem prazo de validade. As regras de compensação da energia excedente a partir de 2029 já deveriam ter sido divulgadas. Sem elas, a rentabilidade de projetos futuros permanece incerta. Muitos vendedores de usinas, por desconhecimento ou conveniência, não informaram compradores sobre essa lacuna regulatória. Agora, com a agenda de trabalhos da ANEEL para 2026 e os relatórios técnicos recém-publicados, o setor finalmente se aproxima de uma definição.
Dois mundos dentro da GD
Hoje convivem dois tipos de usinas:
• As que possuem direito adquirido, com regras de compensação garantidas até 2045.
• As que foram protocoladas após a promulgação da Lei 14.300/22, que aguardam a definição das regras de compensação a partir de 2029.
Essa distinção cria um mercado desigual e gera apreensão entre empreendedores, especialmente aqueles que construíram usinas para arrendamento. A decisão da ANEEL sobre a valoração da GD será determinante para o futuro desses negócios.
A importância da resiliência
Defender a Geração Distribuída é defender a resiliência energética. Em um país sujeito a eventos climáticos extremos, depender apenas de grandes usinas centralizadas e linhas de transmissão longas é um risco. A GD permite gerar energia junto à carga, alimentar diretamente veículos elétricos e sistemas de armazenamento, e reduzir vulnerabilidades.
Enquanto milhões de pequenos geradores se empoderam com novas tecnologias, o modelo tradicional mostra-se robusto, mas frágil diante de crises climáticas. A descentralização, democratização, digitalização e descarbonização são pilares da transição energética que este colunista defende.
O que está em jogo para a sociedade
As definições que surgirão desta tomada de subsídios não são apenas técnicas: afetarão diretamente consumidores, investidores e a sociedade brasileira. O formato do mercado elétrico será redesenhado. Se a valoração reconhecer adequadamente os benefícios da GD como redução de perdas, alívio de picos de demanda e maior segurança energética o país poderá avançar em direção a um sistema mais moderno e sustentável.
Mas se prevalecer uma visão restritiva, que valorize apenas custos imediatos, corre-se o risco de frear um movimento que já mobiliza milhões de brasileiros.
Conclusão
A abertura da Tomada de Subsídios pela ANEEL marca o início de uma disputa regulatória que definirá o futuro da energia no Brasil. O atraso na aplicação da Lei 14.300/22 trouxe insegurança, mas também tempo para amadurecimento do mercado. Agora, não há mais espaço para postergações.
O Brasil está diante de um ponto de inflexão histórico: ou consolida a Geração Distribuída como bandeira da transição energética descentralizada, democratizada, digitalizada e descarbonizada, ou reforça um modelo centralizado que já demonstra fragilidade.
O setor elétrico precisa de coragem política e clareza regulatória. A sociedade precisa estar atenta: o futuro da energia e da própria resiliência nacional será decidido em breve.
Por Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética
ANEEL abre tomada de subsídios: o futuro da Geração Distribuída está em jogo








