Brasil Avança na Modernização do Setor Elétrico com a Implementação de Medidores Inteligentes
- Frederico Boschin
- há 3 horas
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Por FREDERICO BOSCHIN
O governo brasileiro deu mais um passo decisivo para a modernização da sua infraestrutura energética, estabelecendo um quadro regulamentar robusto para a digitalização da rede de distribuição de energia elétrica do país.

Através da Portaria Normativa MME Nº 111, de 18 de junho de 2025, e da proposta detalhada na Nota Técnica N° 28/2025, o Ministério de Minas e Energia (MME) delineia um plano ambicioso para acelerar o investimento em inovação e implementar medidores inteligentes em larga escala, prometendo um sistema elétrico mais eficiente, resiliente e transparente para milhões de brasileiros.
A iniciativa visa substituir os medidores convencionais por dispositivos inteligentes, promovendo uma transformação digital gradual mas impactante, com um horizonte de implementação de até 10 anos.
Objetivos Estratégicos da Digitalização. A referida Portaria Normativa estabelece que a digitalização vai além da simples troca de equipamentos; o objetivo é promover uma série de benefícios diretos para os consumidores e para o setor como um todo, incluindo:
Inovação e Novos Serviços: Estimular a criação de novas soluções e serviços no setor elétrico;
Abertura de Mercado: Favorecer a abertura do mercado de energia para consumidores de baixa tensão;
Transparência e Eficiência: Aumentar a transparência sobre os dados de consumo e operação da rede, ajudando a reduzir perdas não técnicas (como furtos) e a inadimplência;
Transição Energética: Impulsionar a transição para um modelo energético mais limpo e eficaz; e
Modicidade Tarifária: Otimizar o uso e a operação dos sistemas elétricos para manter as tarifas justas.
Uma Estratégia de Duas Fases para uma Rede Inteligente. A proposta do governo adota uma abordagem dupla, exigindo ação imediata a curto prazo enquanto prepara o terreno para uma transformação completa a longo prazo.
FASE 1 – O IMPULSO DE CURTO PRAZO (PRIMEIROS 12 MESES) - Nos próximos 12 meses, todas as distribuidoras de energia elétrica deverão instalar um número adicional de medidores inteligentes correspondente a 4% das suas Unidades Consumidoras (UCs). Estima-se que esta ação inicial implemente cerca de 3,6 milhões de novos medidores em todo o Brasil. A meta é considerada bastante realista, visto que concessionárias como a Enel SP e a Copel já superaram este percentual nas suas áreas.
A escolha das UCs que receberão os primeiros medidores será estratégica, priorizando áreas onde a tecnologia possa gerar os maiores benefícios, como locais com potencial para redução do consumo, dos custos operacionais e das perdas não técnicas.
FASE 2 – A VISÃO DE LONGO PRAZO - Paralelamente, no mesmo período de 12 meses, as distribuidoras deverão realizar e apresentar à Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) uma Análise de Custo-Benefício (ACB) detalhada sobre a implementação massiva de medidores inteligentes em toda a sua área de concessão. Se a análise for positiva, a empresa será obrigada a prosseguir com a implementação em larga escala ao longo da década seguinte.
O que Torna um Medidor "Inteligente"? A nova regulamentação define um conjunto de funcionalidades mínimas que transformam um simples medidor numa poderosa ferramenta de gestão e empoderamento. As principais características incluem:
Operações Remotas: Leitura de dados, assim como o corte e religamento dos serviços à distância, o que elimina a necessidade de visitas presenciais e agiliza o serviço.
Empoderamento do Consumidor: Acesso dos consumidores aos seus dados de consumo através de aplicações, ampliando o uso do Open Energy, permitindo uma melhor gestão do uso de energia e dos custos.
Segurança e Eficiência: Os medidores terão alarmes anti-fraude (anti-tamper), mecanismos de cibersegurança e permitirão uma deteção mais rápida de falhas na rede.
Suporte a Energias Renováveis: A medição de energia e potência ativas de forma bidirecional é uma funcionalidade crucial para integrar a geração distribuída, como painéis solares.
Tarifas Avançadas: A tecnologia permitirá a aplicação de tarifas baseadas no horário de uso (com, no mínimo, 4 postos tarifários programáveis), incentivando os consumidores a deslocarem o consumo para horários de menor procura.
Custos e Benefícios da Modernização. O governo reconhece que este esforço de modernização implica um investimento significativo, que será incorporado na base regulatória e refletido nas tarifas de energia. Uma análise inicial estima que a implementação obrigatória dos primeiros 4% poderão ter um impacto tarifário médio de 0,93%.
Contudo, a Nota Técnica enquadra este valor não como um custo, mas como um investimento estratégico com elevado potencial de retorno. As economias a longo prazo, resultantes da redução de despesas operacionais e de perdas de energia, deverão traduzir-se num alívio tarifário futuro. Para mitigar o impacto inicial, a proposta permite o uso de fundos do Programa de Eficiência Energética (PEE).
Esta proposta abrangente será submetida a uma consulta pública, permitindo que a sociedade, os agentes do setor e os consumidores contribuam para a versão final da regulamentação. Esta iniciativa representa um dos passos mais significativos dos últimos anos para modernizar a infraestrutura energética do Brasil, abrindo caminho para uma rede elétrica mais inteligente, eficiente e focada no consumidor.
Por FREDERICO BOSCHIN
Advogado Sócio – Ferrari Boschin Advogados e Diretor Executivo – Noale Energia. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – 2002; MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/RS) – 2007; Mestre em Direito Econômico pela Universidade de Lisboa (FDUL) – 2009; Pós Graduado em Engenharia de Energia pela PUC/RS – 2018; Pós Graduado em Regulação do Setor Elétrico pela UFRJ – 2024. Coordenador Regional (Santa Catarina) da Associação Brasileira de Energia Solar - ABSOLAR; Membro do Conselho de Infraestrutura (COINFRA) da Federação da Indústria do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS); Conselheiro Fiscal e Diretor de Energia Solar no Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis do RS (SindienergiaRS); Professor do Curso de MBA em Energias Renováveis da PUC/RS – Disciplinas de Geração Distribuída; Professor do Curso de Pós-Graduação em Direito de Energia da PUC/MG – Disciplina de Geração Distribuída;
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