COP30: A Conferência que Falou de Futuro, mas Tropeçou no Básico do Presente
- EnergyChannel Brasil

- há 2 dias
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Especial para Energy Channel
Por Fernando Giansante

A COP30 deveria marcar a entrada definitiva do Brasil no centro da agenda climática global. O evento carrega simbolismos potentes: Amazônia como palco, governança ambiental como narrativa e sustentabilidade como promessa coletiva. Mas, na prática, a conferência entregou algo desconfortável e muito mais profundo do que as falhas logísticas que ganharam as manchetes.
A COP30 escancarou a ausência do “G” em ESG. E quando o G desaparece, o S e o E viram discurso.
Governança não é burocracia. Governança é método, clareza de papéis, coordenação, segurança, previsibilidade e entrega. É o alicerce que sustenta qualquer agenda seja de clima, energia, agricultura ou desenvolvimento. Quando esse pilar falha, tudo o que está sobre ele vacila. E a COP mostrou isso de forma pública, inequívoca e global.
Mas talvez a contradição mais simbólica da conferência tenha sido outra: o agro ficou fora da centralidade do debate. O setor que mais gera alimento, energia, emprego, tecnologia e riqueza; o setor que reúne as principais soluções brasileiras para mitigação climática; o setor que mais pode contribuir para segurança alimentar, energética e ambiental simplesmente não ocupou o espaço estratégico que deveria.
E isso nos leva às perguntas que ninguém deveria evitar:
Como falar de transição energética sem bioenergia?
Como falar de clima sem agricultura?
Como falar de sustentabilidade sem produtividade?
O Brasil domina temas que o mundo inteiro busca: biometano, biomassa, ILPF, manejo regenerativo, carbono no solo, sistemas agroflorestais, rastreabilidade, integração energética, agricultura digital, intensificação sustentável. O agro brasileiro é laboratório vivo da economia de baixo carbono. Ele não deveria estar na periferia da COP. Ele deveria estar no centro como protagonista.
Mas protagonismo exige governança. Exige método. Exige coragem para enfrentar contradições e colocar sobre a mesa o que realmente muda o ponteiro e não apenas o que rende aplausos ou hashtags.
A COP30 mostrou que ainda existe um abismo entre o discurso e a entrega. Entre a ambição e o planejamento. Entre a narrativa e a execução. E esse abismo só se fecha com governança.
Se o Brasil quer liderar a agenda global do clima e ele pode, precisa liderar pelo G. Porque sem governança, não há sustentabilidade que se sustente.
Enquanto isso não acontecer, seguiremos assistindo conferências que falam de futuro, mas tropeçam no básico do presente. Não por falta de potencial, capacidade ou soluções mas por uma razão simples e estrutural: ausência de governança à altura do protagonismo que o Brasil pode e deve exercer.
COP30: A Conferência que Falou de Futuro, mas Tropeçou no Básico do Presente











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