MERCADO GLOBAL DE PETRÓLEO MAIS APERTADO DO QUE PARECE, ALERTA AIE
- EnergyChannel Brasil
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Por EnergyChannel | Redação
Publicado em 16 de julho de 2025
O mercado global de petróleo pode estar significativamente mais apertado do que os números de oferta e demanda sugerem, segundo análise da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgada em seu mais recente relatório mensal. Apesar das projeções indicarem um superávit técnico, indicadores de preço e comportamento do mercado apontam para uma realidade mais complexa, com implicações importantes para o setor energético mundial.

Demanda desacelera, mas refinarias intensificam processamento
De acordo com a AIE, o crescimento da demanda global por petróleo deve desacelerar para apenas 700 mil barris por dia (bpd) em 2025, o ritmo mais lento desde 2009, excluindo-se o ano de 2020 marcado pela contração devido à pandemia de Covid-19. Esta projeção contrasta significativamente com a estimativa da OPEP, que prevê um crescimento de 1,3 milhão de bpd - quase o dobro do número apresentado pela agência sediada em Paris.
"Estamos observando uma transformação estrutural no padrão de consumo global de petróleo, com a transição energética avançando mais rapidamente em determinadas regiões", explica Alexandre Monteiro, analista-chefe do EnergyChannel. "A AIE tradicionalmente apresenta projeções mais conservadoras para a demanda, refletindo sua visão de uma descarbonização mais acelerada da economia global."
Paralelamente, a agência destaca que as taxas de processamento das refinarias aumentarão em 3,7 milhões de bpd entre maio e agosto para atender à demanda sazonal de viagens no hemisfério norte. Adicionalmente, a duplicação do uso de petróleo bruto em refinarias para geração de energia, chegando a aproximadamente 900 mil bpd - principalmente para atender necessidades de ar-condicionado - contribuirá para um maior aperto no mercado.
Oferta cresce, mas não alivia tensões no mercado físico
A AIE revisou para cima sua previsão de oferta global, projetando um aumento de 2,1 milhões de bpd este ano, 300 mil bpd acima da estimativa anterior. Para 2026, a agência prevê um crescimento da oferta de 1,3 milhão de bpd, enquanto a demanda deve aumentar em 720 mil bpd, 20 mil bpd abaixo da projeção anterior.

Apesar destes números sugerirem um superávit considerável, a AIE enfatiza que "indicadores de preço apontam para um mercado físico de petróleo mais apertado do que o sugerido pelo expressivo superávit em nossos balanços."
Entre os indicadores que sustentam esta análise, a agência cita:
- Fortes margens de refino, que normalmente se contraem em cenários de abundância
- Estrutura de mercado em backwardation acentuada (petróleo para entrega imediata negociado com prêmio sobre contratos futuros)
- Reação limitada dos preços ao anúncio de aumento de produção da OPEP+
"A decisão da OPEP+ de acelerar ainda mais a suspensão dos cortes de produção não moveu os mercados de maneira significativa, dado o aperto nos fundamentos", afirmou a agência em seu relatório mensal.
Fatores sazonais intensificam dinâmica de mercado
O período de verão no hemisfério norte tradicionalmente impulsiona a demanda por combustíveis, com mais pessoas viajando de avião e carro durante as férias. Este padrão sazonal, combinado com maior necessidade de geração de energia para sistemas de ar-condicionado, cria um cenário de aperto temporário no mercado.
"Estamos observando uma dinâmica interessante onde os dados macroeconômicos sugerem abundância, mas os indicadores operacionais e de preço revelam um mercado muito mais equilibrado ou até mesmo apertado", analisa Fernanda Campos, especialista em mercados energéticos do Instituto de Estudos Estratégicos em Energia (IEEE).
Esta aparente contradição reflete a complexidade do mercado global de petróleo, onde fatores geopolíticos, logísticos e sazonais frequentemente superam as simples equações de oferta e demanda.
Impacto das tarifas comerciais ainda incerto
A AIE também abordou o potencial impacto das recentes tensões comerciais globais, observando que "embora possa ser muito cedo para dizer que as tarifas estão desacelerando a demanda, os maiores declínios nos dados recentes foram em países na 'linha de fogo da turbulência tarifária'", citando especificamente China, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e México.
Esta observação sugere que as crescentes barreiras comerciais podem estar começando a afetar o consumo de energia em economias-chave, potencialmente contribuindo para a desaceleração projetada na demanda global por petróleo.
Perspectivas para o restante de 2025
O relatório da AIE se alinha com declarações recentes de ministros de países da OPEP e executivos de grandes petroleiras ocidentais, que argumentam que os aumentos de produção não estão levando a maiores estoques, indicando que os mercados continuam ávidos por mais petróleo.
"O mercado está enviando sinais mistos, mas a tendência de fundo aponta para um equilíbrio mais delicado do que os números agregados sugerem", conclui Monteiro. "Produtores, refinadores e consumidores precisam estar atentos a esta dinâmica, pois a volatilidade pode aumentar nos próximos meses."
Para investidores e participantes do mercado energético, a mensagem da AIE serve como um lembrete da importância de olhar além dos números brutos de oferta e demanda, considerando também indicadores de mercado físico e padrões sazonais que podem ter impacto significativo nos preços e na disponibilidade de petróleo.
O EnergyChannel continuará monitorando de perto os desenvolvimentos no mercado global de energia, trazendo análises aprofundadas e atualizações sobre as tendências que moldam o futuro do setor.

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MERCADO GLOBAL DE PETRÓLEO MAIS APERTADO DO QUE PARECE, ALERTA AIE
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