UM BALANÇO SOBRE A COP30: AVANÇOS E FRUSTRAÇÕES
- Renato Zimmermann

- há 3 dias
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Estou aqui juntando os retalhos para conseguir construir este artigo com o objetivo de fazer um balanço sobre o que foi a COP30 e o que representou para o povo da Amazônia, para o Brasil e para o mundo.

Foram dias intensos, noites em claro, negociadores trabalhando madrugada adentro para finalizar os documentos que dariam corpo a esta conferência histórica em Belém.
A cidade se transformou em palco de uma experiência única, onde diplomatas de terno bem ajustado se misturavam com povos originários em suas vestes tradicionais, e o resultado era um mosaico humano que refletia a diversidade planetária.
Era possível ver nas ruas e nos corredores da conferência uma Babel de idiomas, gestos e culturas, mas também um espetáculo de respeito e convivência, como se por alguns dias o mundo tivesse encontrado uma forma de se entender.
Os documentos finais aprovados a chamada Decisão do Mutirão, a Declaração de Belém para a Industrialização Verde, a Declaração sobre a Integridade da Informação Climática e o relatório da Reunião Ministerial sobre Urbanização e Mudanças Climáticas trouxeram avanços importantes. Houve reconhecimento da contribuição de afrodescendentes e povos tradicionais, além de novas frentes sobre urbanização sustentável e industrialização verde.
Mas não posso esconder minha repulsa: mais uma vez os lobistas do petróleo venceram. O texto não trouxe um plano concreto para a eliminação dos combustíveis fósseis.
É como se estivéssemos em marcha rumo ao precipício, manipulados por um mercado que insiste em destruir o planeta. Essa frustração foi ecoada por ONGs como a Arayara, que destacou soluções alimentares de baixo carbono, mas criticou a falta de metas mais ambiciosas.
O Greenpeace denunciou a “ambivalência” do Brasil, que ao mesmo tempo liderava a COP e concedia licenças de exploração de petróleo. Já entidades empresariais como CNI e FIESP pediram cautela, defendendo transições graduais para não comprometer a competitividade industrial.
Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, reconheceu as frustrações, mas afirmou que “a mudança para combustíveis renováveis é imparável”.
Em sua mensagem final, destacou que a COP30 ocorreu em meio a “águas políticas turbulentas”, mas mostrou que a cooperação climática está viva. Enalteceu a participação de 194 países, o compromisso de triplicar o financiamento climático e o avanço em um novo acordo sobre transição justa.
Lembrou ainda que o espírito de mutirão palavra de origem indígena deve permanecer como símbolo de esforço coletivo.
Essa lembrança não foi apenas retórica: ao longo dos dias, vi como milhares de pessoas se sacrificaram, planejando por meses, viajando longas distâncias, enfrentando dificuldades logísticas para estar ali.
Entre os protagonistas, o embaixador brasileiro André Corrêa do Lago brilhou. Sua diplomacia resiliente e moderada foi essencial para conduzir negociações em um cenário adverso.
O Brasil conseguiu tornar a COP mais inclusiva e participativa, abrindo espaço para vozes antes marginalizadas. Essa ativação de novas frentes de participação foi talvez o maior legado da conferência. Nunca mais as COPs serão as mesmas, porque o Brasil mostrou que é possível ampliar o debate e trazer para dentro da sala aqueles que sempre ficaram do lado de fora.
Belém, com sua infraestrutura limitada, foi desafiada a receber um evento de tamanha complexidade. Não foi fácil, mas foi bonito. A cidade se transformou em um mosaico vivo, com pessoas de todas as nações convivendo em respeito e cordialidade. Era algo poético ver os povos originários dividindo espaço com diplomatas, os paraenses acolhendo visitantes com sua hospitalidade, e todos trocando olhares, sorrisos e conversas. Essa convivência foi, para mim, um dos pontos altos da COP30, porque mostrou que a humanidade ainda é capaz de se reunir em torno de um objetivo comum.
Apesar dos avanços, não foi desta vez que ocorreu a virada de página. A humanidade ainda não conseguiu se libertar da dependência dos fósseis. Mas a COP30 deixou sementes: industrialização verde, urbanização sustentável, valorização de afrodescendentes e povos originários. Em março de 2026, na Colômbia, ocorrerá a pós-COP, onde poderemos avançar nos pontos que Belém não conseguiu. Essa expectativa já mobiliza organismos internacionais e governos, que sabem que não podem perder mais tempo.
Os debates foram intensos e reveladores. Participei de mais de 30 encontros de alto nível com especialistas renomados, e aprendi muito. Vi como a iniciativa privada começa a se mover, criando novos mercados de baixo carbono, mas também percebi o medo e a desinformação que ainda circulam, alimentados por oportunistas que pregam o negacionismo. Vi como a geopolítica, as guerras comerciais e o negacionismo político ainda pesam sobre as negociações, mas também como há uma firme determinação em limitar o aquecimento global a 1,5°C, meta que a humanidade luta para não ultrapassar.
A mensagem final da ONU apontou para uma nova era, mas também mostrou preocupações concretas: haverá comida suficiente diante do aumento dos eventos climáticos extremos? Teremos ar limpo para nossos filhos? Estaremos seguros diante de enchentes, estiagens, incêndios e tempestades? Essas perguntas ecoaram nos corredores da COP30 e continuam sem resposta definitiva.
Agora, retornando ao sul do Brasil, sigo refletindo e compilando tudo o que aprendi nestes dias intensos. Continuarei contribuindo para esclarecer a importância de a humanidade encontrar consensos e deixar de lado diferenças. Só assim construiremos uma transição energética justa e mecanismos que garantam nossa essência como humanidade. A COP30 não foi a virada que esperávamos, mas foi um passo. E cada passo importa quando o destino é salvar o planeta.
Por Renato Zimmermann – é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética











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