Brasil x EUA: o que a crise do setor solar nos Estados Unidos revela sobre os riscos de restringir prematuramente o mercado no Brasil
- Eduardo Nicol
- 6 de mai.
- 3 min de leitura
Por Eduardo Nicol
Nos últimos anos, o mercado de energia solar, outrora celebrado como símbolo da transição energética, passou a enfrentar turbulências significativas. Empresas icônicas como SunPower, Titan Solar Power e Sunnova nos Estados Unidos declararam falência ou estão em sérias dificuldades financeiras. No Brasil, o cenário ainda é de crescimento, mas sinais de estagnação e desafios estruturais começam a surgir. Afinal, o que mudou?

O ciclo da bonança e a virada do mercado
Durante a última década, tanto nos EUA quanto no Brasil, o mercado solar foi impulsionado por subsídios, isenções, queda nos preços dos equipamentos e ampla demanda reprimida. A entrada de novos players foi intensa. Contudo, o setor parece ter entrado em uma nova fase — menos eufórica, mais desafiadora.
Nos Estados Unidos, a inflação, o aumento nas taxas de juros e mudanças em políticas estaduais e federais afetaram diretamente os modelos de financiamento. Empresas que se apoiavam fortemente em leasing ou PPAs (Power Purchase Agreements) para residências passaram a enfrentar alta inadimplência e baixa adesão. Além disso, a redução das compensações tarifárias — como o fim da NEM 2.0 na Califórnia — impactou o retorno sobre o investimento do consumidor final, tornando a proposta menos atraente.
No Brasil, o fim da isenção total do fio B a partir da Lei 14.300 e o aumento de custos operacionais também começam a cobrar seu preço. O mercado se vê obrigado a evoluir do modelo de "venda rápida" para um processo consultivo, focado em eficiência energética, armazenamento e engenharia de soluções.
Lobby corporativo e resistência à descentralização
Outro ponto comum aos dois mercados é a atuação de grandes corporações do setor elétrico tradicional, muitas vezes por meio de lobby, para frear o avanço da geração distribuída. Nos EUA, há evidências concretas de campanhas financiadas por concessionárias contra o net metering 1:1. No Brasil, a pressão por novas regras de compensação, limitações técnicas artificiais e demora nas conexões revelam uma resistência silenciosa ao empoderamento do consumidor.
A maturidade do mercado e a necessidade de reinvenção
O mercado solar não está “em colapso”, mas sim entrando em um estágio de maturidade, no qual a competição é mais acirrada, os diferenciais técnicos são essenciais, e o discurso de vendas deve ser ancorado em conhecimento, credibilidade e planejamento energético.
Estamos diante de uma transição da fase de adoção inicial — entusiasta e desregulamentada — para uma era em que apenas empresas com estrutura, estratégia e capacidade técnica real conseguirão prosperar. O consumidor, por sua vez, está mais exigente e cauteloso, especialmente em um cenário de economia fragilizada, tanto no Brasil quanto nos EUA.
COMPARANDO NÍVEIS DE MATURIDADE: BRASIL AINDA ENGATINHAAntes de seguir o mesmo caminho regulatório que os EUA, é fundamental reconhecer que os dois mercados estão em fases completamente diferentes de maturidade:

Restrição agora é matar no berço, antes de crescer
Nos EUA, a crise foi causada por mudanças estruturais em um mercado já maduro. No Brasil, os entraves atuais - como dificuldades na homologação e insegurança regulatória - estão sufocando o mercado antes que ele se consolide.
Caminhos possíveis
O futuro da energia solar continua promissor, especialmente com o avanço das baterias, sistemas híbridos e integração com eficiência energética e mobilidade elétrica. Mas é hora de abandonar a ilusão de crescimento infinito baseado apenas em incentivos e marketing agressivo. A reinvenção do modelo de negócios é urgente.
Em resumo, o setor está mudando. E isso não é ruim — é um sinal de que amadureceu. Agora, cabe aos empreendedores do setor se adaptarem para que a energia solar continue sendo uma das protagonistas da transição energética global, porém, temos uma LIÇÃO À APRENDER COM OS ERROS E NÃO REPETIR A DOSE. A crise nos EUA é um alerta: o Brasil precisa segurança regulatória, visão estratégica e compromisso com a democratização da energia.
Eduardo Nicol é CEO da RENEW Energia no Brasil e CFO da SUN-I Solar Energy nos EUA, atuando no mercado de energias renováveis desde 2014 e com mais de 30 anos de experiência na condução de projetos complexos nos setores de telecomunicações e tecnologia da informação.
Fontes:- SEIA (Solar Energy Industries Association) - www.seia.org- ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) - www.aneel.gov.br- IEA (International Energy Agency) - www.iea.org- EIA (U.S. Energy Information Administration) - www.eia.gov- ABSOLAR - www.absolar.org.br
Brasil x EUA: o que a crise do setor solar nos Estados Unidos revela sobre os riscos de restringir prematuramente o mercado no Brasil
Muito bom
Muito bom Nicol