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ECONOMIA ESTAGNADA AMEAÇA O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL

Como atuante do setor elétrico, não posso ignorar o cenário preocupante que se desenha para 2025. A economia brasileira está patinando, e o setor elétrico, tão essencial para o crescimento do país, sente o impacto de ventos contrários que podem comprometer nossa segurança energética. Vamos mergulhar nos desafios, refletir sobre as ilusões que ainda persistem no mercado e apontar caminhos para navegar essa tempestade.


ECONOMIA ESTAGNADA AMEAÇA O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL
ECONOMIA ESTAGNADA AMEAÇA O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL

1. UM CENÁRIO ECONÔMICO DESAFIADOR PARA O SETOR ELÉTRICO


A economia brasileira vive um momento delicado. A taxa Selic, agora em 15%, reflete a preocupação do Banco Central com uma inflação persistente, que acumula 5,49% no IPCA de junho de 2024 a junho de 2025, bem acima da meta de 3%. Para 2025, a projeção de inflação é de 4,9%, ainda elevada. Esses números pesam diretamente no setor elétrico, onde o custo de capital para novos projetos de geração dispara com juros tão altos.


TABELA COM DADOS RELEVANTES

INDICADOR

VALOR EM 2025

OBSERVAÇÃO

TAXA SELIC

15%

Elevada em 0,25 p.p. em junho de 2025

IPCA (12 MESES, JUN/24-JUN/25)

5,49%

Acumulado até junho de 2025

INFLAÇÃO PROJETADA 2025

4,9%

Acima da meta de 3%

PLD MÉDIO (JUNHO 2025)

R$ 242,54/MWh

Variação de R$ 240,22 a R$ 249,26/MWh

CAPEX MÉDIO POR MW (TERMELÉTRICA)

R$ 4,4 milhões

Média para usinas a gás natural

OPEX MÉDIO POR MW/ANO

R$ 95.000

Estimativa para manutenção e operação

DATA CENTERS DE CONSUMO (2037)

2,5 GW

Equivalente a 25 milhões de pessoas

A insegurança fiscal e política também não ajuda. Investidores hesitam diante de um ambiente instável, e bancos públicos, como BNDES e Banco do Nordeste, estão mais cautelosos, exigindo garantias robustas que nem todos conseguem oferecer. O resultado é claro: menos projetos saem do papel, decisões finais de investimento (FID) são adiadas, e continuamos dependendo de usinas antigas, o que aumenta nossa vulnerabilidade. É como se estivéssemos correndo em uma esteira que não leva a lugar algum.


2. A ILUSÃO DOS PREÇOS BAIXOS NO MERCADO LIVRE


Lembro bem da bonança que vivemos no Ambiente de Contratação Livre (ACL) em 2022 e 2023. Com reservatórios cheios e oferta abundante, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) ficou em R$ 69/MWh em 2022 e R$ 84/MWh em 2023.


Parecia um sonho. Mas, como tudo na vida, o cenário mudou. Em 2025, o PLD disparou: na quarta semana de junho, oscilou entre R$ 240,22/MWh e R$ 249,26/MWh, com média de R$ 242,54/MWh.


A curva forward da BBCE, uma ferramenta que sempre acompanho com atenção, aponta preços ainda mais altos. Em 16 de junho de 2025, contratos para julho subiram 20,81%, atingindo R$ 269,10/MWh, com 881 GWh negociados em 509 operações, totalizando R$ 207 milhões na plataforma EHUB. Para agosto, os preços saltaram 22,09%, chegando a R$ 329,75/MWh. Contratos anuais também mostram alta: energia convencional para 2025 subiu 12,44% para R$ 328/MWh, e incentivada, 11,16% para R$ 358,80/MWh. Muitas comercializadoras já negociam entre R$ 290 e R$ 350/MWh, enquanto a Eletrobras oferece preços mais competitivos a R$ 269/MWh para grandes consumidores.


Essa escalada reflete fatores climáticos, como chuvas 30-40% abaixo da média no Sudeste e Atlântico equatorial, que reduzem a geração hidrelétrica, responsável por 60% da matriz (EPE, 2024). A evapotranspiração elevada, com temperaturas 1,5°C acima da média, pressiona reservatórios como os da Cantareira, que operam entre 40-50% da capacidade. Enquanto isso, a demanda cresce, puxada por data centers, agronegócio e indústrias eletrointensivas. Muitos consumidores ainda esperam preços baixos, mas essa ilusão não resiste aos fundamentos do mercado.


Agora é o momento de agir: fechar contratos de longo prazo pode travar preços antes que a volatilidade piore.


3. MP 1300/2025: UM PASSO À FRENTE, DOIS ATRÁS


A Medida Provisória 1300/2025, publicada em maio, trouxe promessas de democratizar o acesso à energia, ampliando a Tarifa Social e abrindo o mercado para consumidores de baixa tensão. Parece positivo, certo? Mas, na prática, a MP trouxe mais incertezas do que soluções. Novos encargos via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) aumentam os custos para todos, especialmente no ACL.


Além disso, mudanças nas regras de compensação favorecem a geração distribuída, como painéis solares, mas podem sobrecarregar o sistema com custos que todos pagaremos.


Para investidores e comercializadoras no ACL, a MP é um balde de água fria. A falta de previsibilidade desestimula novos projetos, e o risco de escassez de oferta no futuro cresce. É como tentar planejar uma viagem sem saber se a estrada estará aberta.


4. O PREÇO DA INAÇÃO: UM FUTURO DE ESCASSEZ E PREÇOS ALTOS


A ausência de investimentos em nova capacidade de geração ameaça o equilíbrio entre oferta e demanda de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), podendo resultar em escassez e elevação do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), como observado na crise hídrica de 2014–2015. A 1ª Revisão Quadrimestral do Planejamento Anual da


Operação Energética 2025–2029 (EPE/ONS/CCEE) projeta crescimento médio anual de 3,4% na carga de energia, atingindo 82.871 MWmédios em 2025 (+2.969 MWmédios, 3,7% em relação a 2024).


A demanda é impulsionada por setores estratégicos: data centers, com consumo estimado de 2,5 GW até 2037 (equivalente a 25 milhões de residências); agronegócio, com irrigação intensiva demandando energia para até três safras anuais; e indústrias eletrointensivas (alimentos, bebidas, plásticos), especialmente no Sudeste/Centro-Oeste (+1.706 MWmédios em 2025). A micro e minigeração distribuída (MMGD) crescerá 26,4% em 2025 (6.125 MWmédios), mas não supre a demanda máxima integrada (109.099 MWh/h em 2025, 124.505 MWh/h em 2029).


Sem novas usinas, o PLD será significativamente elevado e os custos para consumidores também aumentarão. A Portaria nº 50/2022 (MME), que facilita a migração de consumidores (<500 kW) para o mercado livre (30.702 unidades em fevereiro de 2025), intensifica a pressão sobre a demanda noturna. Riscos macroeconômicos, como a guerra comercial iniciada pelos EUA em 2025, podem limitar o PIB (2,2% em 2025), agravando o cenário.


Investir em fontes renováveis (eólica, solar, biomassa), fortalecer o planejamento com o Modelo 4MD e monitorar a migração para o mercado livre são essenciais para evitar escassez, garantir competitividade e sustentar o crescimento econômico.


5. ECONOMIA E ENERGIA: UM ALERTA PARA AGIR AGORA


Não podemos fingir que o setor elétrico está imune à crise econômica ou às mudanças regulatórias. A Selic em 15%, a inflação resistente e a MP 1300/2025 formam uma tempestade perfeita que exige mais do que contratos bem redigidos. 


ECONOMIA ESTAGNADA AMEAÇA O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL
ECONOMIA ESTAGNADA AMEAÇA O FUTURO DO SETOR ELÉTRICO NO BRASIL

Precisamos de estratégias energéticas inteligentes. Os dados de 25 de junho de 2025 mostram que, entre os consumidores de alta tensão, cerca de 65% estão no mercado livre (ACL), 30% no mercado cativo (ACR) e 5% são autoprodutores (APE), conforme ilustrado no gráfico de segmentação de consumidores de alta tensão. 


Autoprodução estruturada, como investir em usinas próprias (ou APE por Locação de Ativos), pode ser uma grande saída para grandes consumidores. Contratos de longo prazo garantem preços previsíveis, e parcerias confiáveis com geradoras e comercializadoras são essenciais.


É hora de planejar com visão de longo prazo, porque o custo da inação será pago por todos nós.


CONCLUSÃO


A economia estagnada do Brasil, com inflação persistente (5,49% no IPCA de junho de 2024 a 2025), juros elevados (Selic a 15%) e insegurança fiscal, compromete o setor elétrico, dificultando investimentos em novas usinas e ameaçando a segurança energética.


Os preços baixos de energia de 2022-2023 (PLD a R$ 69-84/MWh) não se sustentaram, com o PLD em junho de 2025 alcançando R$ 242,54/MWh. Projeções de alta nos preços poderiam atrair investidores, mas o cenário de juros e inflação elevados torna os investimentos cada vez mais difíceis.


A MP 1300/2025, embora busque ampliar o acesso à energia, adiciona incertezas e custos, desincentivando o mercado. Sem medidas urgentes, como expansão de fontes renováveis, contratos de longo prazo e incentivo à autoprodução, o Brasil enfrentará escassez energética, custos mais altos e impactos econômicos graves.


Fontes:

  1. Banco Central do Brasil. Histórico de Taxas de Juros. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/historicotaxasjuros 

  2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). IPCA. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php 

  3. Confederação Nacional da Indústria (CNI). Investimentos em Infraestrutura 2025. Disponível em: https://ibl.org.br/investimentos-em-infraestrutura-devem-somar-r-2779-bi-em-2025-aponta-cni/ 

  4. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Dados de Mercado. Disponível em: https://www.ccee.org.br 

  5. Congresso Nacional. Medida Provisória 1300/2025. Disponível em: https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/168719 


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1 Comment

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Fabiana Garcia
há 2 horas
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Parabéns Arthur, excelente artigo.

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