Startups, território e transição climática: o que a COP 30 nos exige agoraPor Claudia Andrade
- Claudia Andrade
- há 41 minutos
- 4 min de leitura
Em novembro de 2025, o Brasil sediará, pela primeira vez, a Conferência das Partes da ONU sobre Mudança do Clima. A COP 30 acontecerá em Belém do Pará, no coração da Amazônia brasileira — e, com ela, virão mais de 190 delegações oficiais, cerca de 40 mil participantes internacionais, bilhões de dólares em fundos climáticos e uma rara concentração global de atenção sobre o nosso país.

Mas o que isso significa — de verdade — para as startups de impacto que nascem no Brasil profundo? Aquelas que estão desenvolvendo tecnologias sociais com foco em saneamento, agroecologia, água potável, gestão de resíduos, bioeconomia e educação ambiental?

Como empreendedora de impacto com mais de três décadas de atuação em territórios vulneráveis — do sertão baiano à zona rural de Moçambique — não consigo olhar para a COP 30 como apenas um evento climático. Vejo nela uma encruzilhada: ou seguimos repetindo os mesmos padrões de concentração de poder e financiamento, ou reconhecemos que a próxima era da inovação será territorial, regenerativa e descentralizada. E as startups precisam estar prontas para isso.
Durante a COP 27 no Egito, mais de US$ 11 bilhões em compromissos financeiros foram anunciados em poucos dias. O Green Climate Fund, maior fundo multilateral do mundo dedicado à ação climática, sozinho já aprovou mais de US$ 13 bilhões em projetos de mitigação e adaptação, e deve intensificar sua atuação nos países do Sul Global nos próximos ciclos.
O Brasil é prioridade: detentor da maior floresta tropical do mundo, com 20% da biodiversidade do planeta e 12% da água doce superficial, o país é considerado chave nas negociações climáticas. Mas, paradoxalmente, continua negligenciado em políticas públicas estruturantes:
Ainda temos mais de 33 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada (SNIS, 2023);
Cerca de 46% da população ainda não é atendida por coleta e tratamento de esgoto;
Em 2024, o país atingiu o maior número de focos de incêndio florestal na Amazônia desde 2007 (INPE); E seguimos com índices alarmantes de insegurança alimentar, racismo ambiental e exclusão digital. Diante desse cenário, a pergunta que se impõe é: que tipo de inovação o Brasil precisa mostrar ao mundo na COP 30?
Startups de impacto: potência real, ainda invisível
O Brasil possui hoje cerca de 1.300 startups de impacto mapeadas, segundo o Monitor de Impacto da Pipe.Social, e esse número vem crescendo. Muitas delas atuam diretamente em temas estratégicos para a agenda climática global: água, saneamento, energias renováveis, gestão de resíduos, agricultura regenerativa e justiça territorial.
Entretanto, menos de 10% dessas startups acessam recursos públicos ou fundos internacionais. A maioria opera com capital próprio, rodadas pontuais ou editais nacionais com baixo volume de investimento. Isso precisa mudar. E a COP 30 pode ser o ponto de virada.
Estar pronta para a COP 30 vai muito além de ter um pitch bonito ou um vídeo institucional com drones. É sobre conseguir apresentar ao mundo soluções tecnológicas com profundidade, legitimidade territorial e impacto mensurável. Significa:
1. Dominar o próprio impacto
Traduzir resultados em indicadores técnicos e sociais claros: redução de emissões, aumento de acesso à água, melhorias na saúde pública, engajamento comunitário, presença em escolas públicas, diminuição da evasão escolar, geração de renda local.
2. Conhecer as vias de financiamento
Mapear chamadas de fundos climáticos internacionais, como o GCF, CIF, GEF, e também fomentos públicos nacionais, como BNDES Fundo Clima, Finep e as chamadas estaduais de inovação. Entender como funcionam as parcerias com entidades acreditadas.
3. Saber vender para governos
Aprender a navegar a Lei nº 14.133/21 (nova Lei de Licitações), utilizar emendas parlamentares como ferramenta de entrada em territórios, entender os caminhos da compra pública para soluções sustentáveis.
4. Fortalecer redes regionais
Conectar-se a ecossistemas locais e redes cooperativas. A startup isolada não escala. Mas, quando conectada a cooperativas, escolas, consórcios intermunicipais, universidades e redes de fomento, ganha musculatura institucional e abrangência real.
A pergunta que me move não é “como aparecer na COP 30”. É: o que ficará depois que ela passar?
Quais tecnologias ficarão nas escolas públicas?
Quantos municípios estarão mais resilientes?
Quantas startups conseguirão sair da dependência de editais pontuais e construir contratos sustentáveis com governos e investidores comprometidos com impacto real?
A COP 30 pode ser o ponto de partida de uma nova era — uma era em que o Brasil exporta soluções e não apenas commodities.
Nos últimos anos, tenho contribuído com a estruturação de projetos em mais de 100 comunidades, através da SDW, focando em tecnologias acessíveis de saneamento, água e educação ambiental. E, com a chegada da COP 30, coloco minha experiência à disposição para apoiar:
Startups em fase de tração que desejam estruturar seu modelo de impacto; Grupos que precisam entender como vender ao setor público sem depender de licitação;
Jovens empreendedores que querem apresentar suas soluções em editais climáticos internacionais; Redes que desejam estruturar um legado COP 30 nos territórios.
Porque no fim, não é sobre o evento. É sobre o futuro. O que me move não é a COP. É o que a gente vai fazer com ela. É garantir que o semiárido seja ouvido. Que os jovens indígenas sejam protagonistas. Que as mulheres negras da agricultura familiar liderem tecnologias. Que as soluções não sejam apenas escaladas, mas reconhecidas como saberes estratégicos para o mundo.
Se a COP 30 conseguir mostrar esse Brasil, então ela terá valido a pena. E se não for agora, quando?
Startups, território e transição climática: o que a COP 30 nos exige agora
Por Claudia Andrade
@cauvic2
Startups, território e transição climática: o que a COP 30 nos exige agoraPor Claudia Andrade
Excelente matéria, nos leva a grandes reflexões!
Muito boa a matéria.