Os Desafios da Eletrificação do Transporte Coletivo nas Cidades Brasileiras
- Marco Saltini
- há 6 horas
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Por Marco Saltini, Vice-president at VW Truck & Bus
Com o avanço das discussões sobre sustentabilidade e a necessidade urgente de redução das emissões de gases de efeito estufa, a eletrificação do transporte coletivo desponta como uma solução estratégica para os centros urbanos brasileiros. No entanto, apesar dos benefícios ambientais e econômicos associados à transição dos ônibus a diesel para modelos elétricos, as cidades brasileiras enfrentam uma série de desafios que tem dificultado a consolidação dessa nova solução de mobilidade.

Um dos principais entraves à eletrificação está na ausência de infraestrutura adequada.
Se por um lado vemos a crescente presença de automóveis elétricos ou híbridos plug in circulando nas grandes cidades brasileiras, a situação para as frotas de ônibus urbanos nestas cidades é bem mais complexa.
A rede de abastecimento elétrico, por exemplo, não está preparada para atender à demanda de carregamento em larga escala. A instalação de eletropostos, subestações, pontos de recarga e sistemas de gerenciamento inteligente da energia exige altos investimentos e planejamento urbano integrado, o que ainda é uma barreira em muitas cidades.

Além disso, os sistemas de transporte atuais foram concebidos com base em veículos movidos a combustíveis fósseis. A adaptação da malha viária, garagens e terminais de ônibus para atender às novas exigências tecnológicas é um processo complexo e dispendioso e precisa necessariamente ser planejado como um todo. Não basta apenas a aquisição dos veículos, é preciso principalmente equacionar a questão da recarga destes veículos.
Há de se considerar por exemplo que boa parte destes ônibus voltam às garagens no inicio da madrugada e tem que minimamente fazer uma higienização (limpeza, lavagem), manutenção (e não apenas de sistema de propulsão mas de todos os itens que compõe por exemplo a carroceria) e recarregar para que no inicio da manhã já esteja apto a circular novamente.
É impossível resolver estas situações? Claramente não, mas é preciso planejar adequadamente as soluções e desafios, que não são poucos.
O custo de aquisição de ônibus elétricos ainda é significativamente superior ao dos modelos convencionais a diesel. Embora os veículos elétricos tenham menor custo operacional ao longo da vida útil (menos manutenção e menor gasto com energia em comparação ao diesel), o investimento inicial elevado dificulta sua adoção em larga escala, especialmente para prefeituras e empresas concessionárias com orçamentos limitados.
Esse cenário exige a criação de políticas públicas de financiamento, subsídios e incentivos fiscais, além de parcerias público-privadas para viabilizar a eletrificação de forma escalável e sustentável.
Isto tem sido uma prática em países desenvolvidos e até mesmo em alguns países em desenvolvimento mas não temos visto ações concretas no Brasil.
A eletrificação do transporte coletivo requer diretrizes claras e articulação entre os níveis federal, estadual e municipal. No entanto, ainda há carência de políticas públicas robustas que incentivem a transição energética no setor de mobilidade urbana. Muitas iniciativas ocorrem de forma isolada, sem continuidade administrativa ou metas claras de redução de emissões.
O planejamento de longo prazo é essencial para que a transição ocorra de maneira eficiente, com integração entre transporte, energia e desenvolvimento urbano. A criação de marcos regulatórios, metas de eletrificação e programas de capacitação técnica são passos fundamentais para impulsionar este processo.

A operação e manutenção de ônibus elétricos exigem conhecimentos técnicos específicos que ainda são escassos no Brasil. A formação de profissionais capacitados, desde motoristas até técnicos de manutenção e engenheiros, é indispensável para garantir a eficiência e segurança do sistema. Lembremos que estes veículos operam com alta tensão e portanto os cuidados com manutenção são específicos.
Além disso, é preciso preparar todo o ambiente que envolve a circulação desta tecnologia. Por exemplo, em caso de acidentes, como fazer o resgate de vitimas sem por em risco as próprias vítimas e as equipes de resgate.
O Brasil é um país de dimensões continentais e grande desigualdade entre suas cidades. Enquanto capitais como São Paulo, Curitiba e Salvador já iniciaram programas-piloto com ônibus elétricos, municípios de médio e pequeno porte ainda enfrentam dificuldades até mesmo para renovar suas frotas a diesel por veículos com tecnologias mais avançadas, como os que atendam aos limites da atual legislação de emissões do PROCONVE (P8/Euro 6).
A adoção de políticas públicas inclusivas, que contemplem diferentes realidades regionais, será crucial para que a eletrificação do transporte coletivo não acentue ainda mais as desigualdades urbanas.
A eletrificação do transporte coletivo de passageiros é um passo necessário para a construção de cidades mais sustentáveis, limpas e eficientes. Porém, sua implementação no Brasil depende de ações coordenadas, investimentos contínuos e uma visão estratégica de futuro.
Superar os desafios técnicos, econômicos e institucionais exige não apenas vontade política, mas também o engajamento da sociedade civil, do setor privado e da comunidade científica. A mobilidade elétrica não é uma utopia distante — é um caminho possível, desde que percorrido com planejamento, inovação e compromisso.
Por fim, é fundamental considerar também as potencialidades brasileiras para o uso de biocombustíveis como o biodiesel, HVO e Biometano. Isto não pode e não deve ser desprezado. São alternativas que podem garantir uma transição adequada dentro de um planejamento que permita uma descarbonização do transporte que deve ser o principal objetivo para uma mobilidade sustentável.
Os Desafios da Eletrificação do Transporte Coletivo nas Cidades Brasileiras
Boa reflexão cobrindo todos os pontos importante, parabéns pelo artigo Marco.
Eu concordo temos que considerar todas as ferramentas o potencia dos biocobustíveis é enrome no Brasil.
Gostei muito do seu artigo Marco, ótimo conteúdo.