Inovação, Terras Raras e a Oportunidade Histórica do Brasil na Transição Energética
- Janayna Bhering Cardoso
- há 5 horas
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A corrida pela energia limpa é também uma corrida por recursos estratégicos — e o Brasil tem nas mãos um trunfo decisivo: as terras raras.
A transição energética deixou de ser uma pauta do futuro para se tornar um imperativo do presente. O mundo caminha, ainda que a passos desiguais, para a descarbonização de sua matriz energética. Nesse novo cenário, recursos minerais antes considerados de interesse limitado ganham protagonismo absoluto — e entre eles estão as chamadas terras raras.
O que são terras raras e por que o mundo depende delas?
As terras raras são minerais da família dos elementos químicos denominados lantanídeos. Apesar de sua denominação, sua ocorrência na natureza e as reservas atualmente conhecidas são relativamente abundantes. O que as torna "raras" é o grau de complexidade e custo de seu processamento.
Esses 17 elementos químicos são componentes indispensáveis na fabricação de motores elétricos, turbinas eólicas, painéis solares, baterias, ímãs permanentes, telas de alta resolução, equipamentos médicos e tecnologias de defesa.
Com a expansão da mobilidade elétrica e das energias renováveis, a demanda por terras raras cresce em ritmo acelerado. E é aí que o Brasil entra em cena.
O Brasil e seu potencial estratégico
O Brasil possui reservas expressivas de terras raras, especialmente nos estados de Minas Gerais, Amazonas e Goiás. Em um contexto geopolítico em que a China responde por mais de 80% da produção mundial desses elementos, países e blocos econômicos buscam fornecedores alternativos confiáveis e sustentáveis. A pergunta que se impõe é: o
Brasil está pronto para assumir esse papel?
A resposta depende de uma equação que vai muito além da geologia. É preciso investimento em pesquisa, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e, sobretudo, políticas públicas de longo prazo. A criação de cadeias produtivas nacionais de alto valor agregado — que envolvam desde a mineração até o beneficiamento, o refino e a fabricação de componentes — é o único caminho para evitar que o país permaneça na condição de mero exportador de commodities.
Empresas como a CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) já vêm desenvolvendo técnicas de aproveitamento desses recursos com foco em inovação e sustentabilidade. Com o avanço de estudos geológicos e tecnológicos, cresce a expectativa de que o país possa alcançar protagonismo na produção mundial.
Inovação como vetor de soberania tecnológica
Transformar potencial mineral em riqueza estratégica exige pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. O Brasil começa a dar passos importantes que cabem destaque:
GT10 do MIBI/MDIC: Grupo de Trabalho coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, responsável por articular políticas públicas para impulsionar a cadeia produtiva de materiais críticos, nos quais se incluem as terras raras. O GT10 integra governo, setor produtivo e academia com foco na inovação e soberania tecnológica.
Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras Raras (CIT SENAI ITR), em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. o CIT SENAI ITR é o primeiro laboratório-fábrica da América do Sul voltado à produção de ímãs de terras raras. A instituição também está próxima de formalizar o projeto estruturante MagBras, que reunirá 28 empresas e seis Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), além do próprio CIT SENAI ITR. A iniciativa cria uma rede robusta de pesquisa e desenvolvimento com foco em soberania tecnológica, inovação industrial e sustentabilidade e visa estruturar uma cadeia nacional e competitiva para esses materiais críticos.
Fomento Finep e BNDES: edital que encerrou em maio deste ano, iniciativa no âmbito da Nova Indústria Brasil recebeu 124 propostas de 136 grupos econômicos, com destaque para investimentos em terras raras, lítio, cobre e grafite. Objetivo é apoiar projetos ligados à transformação de minerais estratégicos, totalizando investimento potencial de R$ 85,2 bilhões.
Essas iniciativas mostram que o Brasil está começando a alinhar recursos naturais, capacidade tecnológica e inteligência institucional para ocupar seu lugar no tabuleiro da transição energética global. Importante que neste contexto tenhamos visão de médio e longo prazo e políticas de estado perenes que tragam não apenas recursos financeiros, mas também segurança jurídica e política para investimentos robustos também do setor privado.
Sustentabilidade: o maior desafio e a maior oportunidade
A mineração de terras raras pode gerar impactos ambientais significativos se conduzida sem critérios. O desafio brasileiro está em construir um modelo sustentável, que combine crescimento econômico com responsabilidade ambiental. Isso inclui:
Tecnologias limpas de extração e separação;
Políticas de reabilitação de áreas mineradas;
Reciclagem e reaproveitamento de resíduos industriais;
Fomento à pesquisa em universidades e centros tecnológicos.
Transformar terras raras em um pilar estratégico exige mais do que mineração, requer uma nova mentalidade industrial, baseada em inovação e sustentabilidade.
Uma nova corrida do ouro — e o Brasil pode liderar
O mundo caminha para uma economia verde, digital e descarbonizada. E nesse novo cenário, os elementos raros são a base invisível sobre a qual se erguerá boa parte da tecnologia do século XXI. O Brasil tem as condições ideais para liderar esse processo: reservas abundantes, capacidade científica instalada, capital humano qualificado e um ecossistema de inovação em expansão.
O momento exige coordenação estratégica, investimento e visão de futuro. Se bem conduzida, essa jornada pode gerar bilhões em investimentos, novos empregos, fortalecimento da indústria nacional e posicionar o país como referência mundial em mineração e tecnologia limpa.
Vamos conversar sobre isso?
Se você atua nos setores de inovação, mineração, energia ou políticas públicas, quero ouvir sua opinião. Como o Brasil pode consolidar uma cadeia sustentável e inovadora de minerais estratégicos? O debate está aberto.
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Inovação, Terras Raras e a Oportunidade Histórica do Brasil na Transição Energética
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