ANÁLISE DE PREÇOS DE ENERGIA ELÉTRICA E PROJEÇÕES DE MERCADO
- Arthur Oliveira
- há 10 horas
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Na minha opinião, o mercado de energia elétrica no Brasil enfrenta e enfrentárá nos próximos tempos um cenário de alta volatilidade, com preços de referência registrando aumentos significativos e mudanças estruturais no consumo e na geração. Dados recentes da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e da consultoria Dcide apontam para uma escalada de mais de 15% nos preços trimestrais de energia, refletindo pressões sazonais, condições hidrológicas adversas e a transição para fontes renováveis.

Considero que esses fatores combinados explicam os aumentos expressivos. O contexto atual, analisado com base no relatório InfoMercado Quinzenal № 353 (CCEE, 2025) e no levantamento da Dcide, também projeta tendências futuras que indicam desafios contínuos para o setor.
CONTEXTO ATUAL DOS PREÇOS DE ENERGIA
De acordo com a Dcide, os preços trimestrais de energia para entrega de agosto a outubro de 2025 registraram alta semanal superior a 15%. O índice para energia convencional atingiu R$ 284,30 /MWh, um aumento de 17,51% em relação à semana anterior (R$ 241,94/MWh). Em um ano, a valorização foi de 104,59%, evidenciando uma forte pressão inflacionária. Para a energia incentivada — proveniente de fontes eólicas, solares, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) —, o preço subiu 15,36% na semana, alcançando R$ 312,35/MWh, com alta anual de 81,18%.
O Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), divulgado pela CCEE em 30 de julho de 2025, registrou uma média de R$ 311,38/MWh nos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Nordeste, e R$ 311,39/MWh no Norte. Esses valores refletem a volatilidade do mercado de curto prazo, com máximas diárias de R$ 333,47/MWh e mínimas de R$ 292,43/MWh, influenciadas por fatores como demanda, disponibilidade de geração e condições hidrológicas.
CONSUMO E GERAÇÃO: PRIMEIRA QUINZENA DE JULHO DE 2025
O relatório InfoMercado Quinzenal № 353 da CCEE, que compara os dados de 1º a 15 de julho de 2025 com o mesmo período de 2024, indica uma queda de 6,6% no consumo de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN). No Ambiente de Contratação Livre (ACL), a redução foi de 4,5%, enquanto no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) atingiu 8,2%. Regionalmente, Rio de Janeiro (-19,7%), Tocantins (-18,9%) e Rondônia (-17,4%) apresentaram as maiores retrações, enquanto Acre (14,8%) e Maranhão (2,6%) registraram crescimento.
Na geração, houve uma queda estimada de 3,8% em relação a 2024. As fontes hidráulicas, ainda predominantes na matriz energética, registraram uma redução de 12,5%, refletindo condições hidrológicas desfavoráveis. Em contrapartida, fontes renováveis e térmicas apresentaram crescimento: a geração fotovoltaica aumentou 4,7%, a eólica 5,0% e a térmica 16,9%, indicando uma diversificação gradual da matriz energética.
FATORES QUE INFLUENCIAM OS PREÇOS
A escalada nos preços da energia resulta de múltiplos fatores:
CONDIÇÕES HIDROLÓGICAS DESFAVORÁVEIS: A queda de 12,5% na geração hidráulica eleva a dependência de térmicas, mais custosas devido ao uso de combustíveis fósseis, impactando diretamente o PLD e os preços de referência.
CRESCIMENTO DAS FONTES RENOVÁVEIS: Apesar do aumento na geração eólica e fotovoltaica, a intermitência dessas fontes exige maior despacho térmico para garantir a estabilidade do sistema.
DEMANDA E SAZONALIDADE: A redução de 6,6% no consumo pode estar associada à desaceleração econômica em setores industriais (temos de ficar de olho) e à sazonalidade do inverno, que reduz a demanda em algumas regiões.
DINÂMICA DE MERCADO: A migração de consumidores para o ACL e o aumento da participação de autoprodutores e varejistas intensificam a competição, mas também contribuem para a volatilidade dos preços.
TENDÊNCIAS FUTURAS PARA O MERCADO DE ENERGIA
O setor elétrico brasileiro está em transformação, com tendências que moldarão seu futuro:
EXPANSÃO DAS FONTES RENOVÁVEIS E FIM DA ENERGIA INCENTIVADA: O crescimento de 5,0% na geração eólica e 4,7% na fotovoltaica sinaliza uma maior participação dessas fontes. Contudo, a MP 1300, que propõe mudanças regulatórias, pode extinguir os incentivos para energia incentivada, como o desconto de 50% na tarifa de uso do sistema de distribuição (TUSD) para fontes renováveis. Isso pode elevar os custos para consumidores de energia eólica, solar, biomassa e PCHs, impactando a competitividade dessas fontes no curto prazo. Investimentos em armazenamento de energia e tecnologias de previsão climática serão cruciais para mitigar a intermitência e reduzir a dependência de térmicas.
CRESCIMENTO DA AUTOPRODUÇÃO: A autoprodução de energia, especialmente por grandes consumidores industriais e comerciais, está em ascensão no ACL. Esse movimento, incentivado pela busca por custos mais previsíveis e pela sustentabilidade, pode reduzir a demanda no mercado cativo e pressionar as distribuidoras. A MP 1300 pode facilitar a regulamentação da autoprodução, estimulando investimentos em projetos de geração, como usinas solares e eólicas.
DIGITALIZAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: Apesar dos desafios financeiros, a implementação de redes inteligentes (smart grids) e sistemas de gestão de energia pode otimizar o consumo, reduzindo perdas (atualmente em 2,74% para consumo e 2,71% para geração) e estabilizando a demanda.
LIBERALIZAÇÃO DO MERCADO: A expansão do ACL, com maior participação de consumidores livres, especiais e autoprodutores, deve continuar, promovendo competição. Contudo, a possível extinção dos descontos da energia incentivada, prevista na MP 1300, pode exigir regulação robusta para evitar distorções nos preços e garantir a competitividade do mercado.
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A imprevisibilidade das chuvas, agravada pelas mudanças climáticas, manterá a pressão sobre as hidrelétricas, demandando maior diversificação da matriz e investimentos em resiliência, como sistemas de armazenamento e fontes complementares.
POLÍTICAS DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: A MP 1300 pode reformular o modelo de precificação do PLD e incentivar a transição para fontes limpas, mas a extinção da energia incentivada pode aumentar os custos no curto prazo. A coordenação entre agentes do setor será essencial para equilibrar sustentabilidade e acessibilidade.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o mercado de energia elétrica no Brasil vive um cenário de alta volatilidade e incertezas estruturais, com aumento superior a 15% nos preços em apenas uma semana e queda de 6,6% no consumo na primeira quinzena de julho de 2025. A redução da geração hidráulica e a maior participação de fontes renováveis e térmicas evidenciam uma transição em curso na matriz energética, ao mesmo tempo em que reforçam a necessidade de estratégias seguras e economicamente vantajosas para suprimento de energia.
Diante disso, ganha ainda mais relevância a compra de energia incentivada, especialmente considerando a possibilidade concreta de extinção desse benefício a partir de 31/12/2025, conforme previsto na Medida Provisória nº 1.300. A combinação entre pressão de preços, mudanças regulatórias e a incerteza sobre o futuro da energia incentivada impõe decisões estratégicas ainda em 2025. Adiar pode significar perder oportunidades.
Fontes:
CCEE. (2025). InfoMercado Quinzenal № 353 - 1ª edição. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Disponível em: [Documento fornecido].
Dcide. (2025). Preços trimestrais de energia têm alta semanal de mais de 15%. Relatório de mercado, 30 de julho de 2025.
CCEE. (2025). Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) - 30 de julho de 2025. Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.
ANÁLISE DE PREÇOS DE ENERGIA ELÉTRICA E PROJEÇÕES DE MERCADO
Muito bom o artigo