A ASCENSÃO INEVITÁVEL: COMPREENDENDO A TENDÊNCIA EVOLUTIVA DOS PREÇOS NO MERCADO DE ENERGIA
- Arthur Oliveira
- há 7 dias
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Por Arthur Oliveira, Colunista do EnergyChannel
O mercado de energia elétrica no Brasil, um setor vital para a economia e o cotidiano de todos, encontra-se em um momento de clara inflexão.

Os sinais de que os preços seguirão uma trajetória ascendente são cada vez mais evidentes, e ignorá-los seria um erro estratégico para qualquer consumidor, seja ele residencial, comercial ou industrial. A análise do recente relatório da BBCE para a semana de 04 a 08 de agosto de 2025 não apenas confirma essa tendência, mas também oferece insights cruciais sobre os fatores que a impulsionam.
O PULSO DO MERCADO: A VALORIZAÇÃO DOS CONTRATOS FUTUROS
O dado mais contundente do relatório da BBCE é a expressiva alta nos preços para vencimentos futuros. O destaque absoluto foi Setembro de 2025, que registrou um aumento notável de 21,05%, saltando de R$ 243,17 para R$ 294,36 por MWh. Essa valorização não é um evento isolado; o último quadrimestre de 2025 (4T 2025) também apresentou incrementos significativos, com o SE Convencional subindo 16,15% e o SE I5 (Incentivado) 14,73%.
Essa movimentação de preços é um reflexo direto de dois fatores primordiais: a revisão quadrimestral do setor e a divulgação de uma previsão de carga acima do esperado. Em termos simples, o mercado está precificando uma demanda maior por energia no futuro próximo, o que, naturalmente, eleva os valores. Mesmo os contratos de longo prazo, como os anuais para 2026 e 2027, embora com variações percentuais menores, seguiram a mesma curva ascendente, indicando uma expectativa consolidada de preços mais elevados em todo o horizonte de planejamento.
Produto | Convencional (08/08 R$/MWh) | Incentivada I5 (08/08 R$/MWh) | Diferença (I5 - Convencional) R$ | Diferença % |
08/2025 | 296,32 | 324,73 | 28,41 | 9,59% |
09/2025 | 294,36 | 323,00 | 28,64 | 9,73% |
4T 2025 | 312,14 | 340,99 | 28,85 | 9,24% |
TERMELÉTRICAS MAIS ATIVAS E FLEXIBILIZAÇÃO OPERATIVA GARANTEM SEGURANÇA DO SISTEMA ELÉTRICO

O fornecimento de energia no Brasil deve se manter estável até o fim de 2025, segundo avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). No entanto, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) alerta para a necessidade de um despacho termelétrico mais intenso nos próximos meses, aliado à flexibilização de regras operativas, para garantir o atendimento da demanda máxima, especialmente durante os horários de pico.
O cenário é influenciado por chuvas abaixo da média, registradas principalmente nas bacias do Sul e dos rios Tietê e Grande, deixando os reservatórios com níveis mais apertados em algumas regiões. Apesar disso, os reservatórios permanecem relativamente estáveis, com leve tendência de queda nos próximos meses.
Na prática, isso significa que mais usinas térmicas serão acionadas para suprir os picos de consumo, e o ONS poderá adotar decisões operativas fora do padrão para manter a segurança do sistema. Embora o abastecimento esteja garantido, o cenário aponta para custos energéticos mais altos, reforçando a necessidade de planejamento estratégico e soluções que minimizem a exposição a despesas crescentes.
ALÉM DA OFERTA E DEMANDA: OS ENCARGOS E A REGULAÇÃO
A tendência de alta nos preços da energia não se explica apenas pela dinâmica de oferta e demanda. O arcabouço regulatório e os encargos setoriais desempenham um papel cada vez mais relevante na composição da tarifa final.
A Medida Provisória (MP) 1300/2025, atualmente em discussão no Congresso, é um exemplo claro de como as decisões políticas e regulatórias podem impactar diretamente o custo da energia.
Embora a MP 1300 traga propostas que visam modernizar o setor e, em tese, beneficiar o consumidor, a redistribuição de encargos, como os da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), pode gerar um aumento indireto nas tarifas. O custo da Tarifa Social de Energia Elétrica, por exemplo, que beneficia milhões de famílias de baixa renda, é rateado entre todos os consumidores. A elevação da previsão tarifária da ANEEL de 3,5% para 6,3% em 2025, em grande parte devido ao orçamento recorde da CDE e à descotização da Eletrobras, é um alerta de que os custos sistêmicos estão crescendo e serão repassados.
A TENDÊNCIA EVOLUTIVA: UM CENÁRIO DE ALTA CONTÍNUA
Diante desse panorama, a tendência evolutiva dos preços no mercado de energia é de alta contínua. A combinação de uma demanda crescente, a valorização dos contratos futuros, os encargos setoriais e as incertezas regulatórias cria um ambiente de pressão ascendente sobre as tarifas. O consumidor que ainda espera por uma reversão dessa tendência pode ser surpreendido por contas de luz cada vez mais pesadas.
Essa realidade exige uma mudança de postura. A gestão da energia deixa de ser uma mera despesa para se tornar um item estratégico no planejamento financeiro de empresas e famílias. A busca por eficiência energética, a otimização do consumo e a diversificação das fontes de suprimento tornam-se imperativas.
SOLUÇÕES PARA NAVEGAR NESTE NOVO CENÁRIO
Para mitigar o impacto dessa escalada de preços, diversas soluções podem ser consideradas. A busca por contratos de longo prazo pode garantir previsibilidade e proteção contra a volatilidade do mercado.
Outra alternativa que ganha relevância é a Autoprodução de Energia por Locação de Ativos. Embora tradicionalmente associada a grandes investimentos, modalidades como a autoprodução por locação de ativos permitem que empresas e consumidores de médio porte acessem os benefícios de gerar sua própria energia sem a necessidade de imobilizar capital significativo. Nesse modelo, o consumidor aluga a infraestrutura de geração, garantindo o suprimento e, muitas vezes, uma redução nos custos e uma maior previsibilidade orçamentária.
CONCLUSÃO
O mercado de energia no Brasil está passando por mudanças importantes, e os sinais de que os preços vão continuar subindo são claros. O ONS, em reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), destacou que nos próximos meses teremos um despacho termelétrico mais intenso e flexibilização das regras operativas, justamente para garantir que a demanda do Sistema Interligado Nacional (SIN) seja atendida.
Esse cenário mostra que não podemos olhar para o setor de energia de forma isolada: entender os fatores que impulsionam essa evolução e buscar soluções inovadoras é essencial. Para empresas e consumidores, alternativas como autoprodução de energia por locação de ativos podem ser diferenciais importantes, garantindo segurança no fornecimento, eficiência operacional e sustentabilidade financeira mesmo em um momento de energia cada vez mais cara.
Fonte:
BBCE. Relatório Semanal de Mercado - Semana 04/08 – 08/08 | Ano 2025
Ministério de Minas e Energia (MME). CMSE prevê cenário favorável para atendimento de carga do SIN até o fim do ano. Publicado em 13 ago. 2025.
A ASCENSÃO INEVITÁVEL: COMPREENDENDO A TENDÊNCIA EVOLUTIVA DOS PREÇOS NO MERCADO DE ENERGIA
Boa análise! O texto mostra com clareza que o aumento dos custos de energia não vem só da oferta e demanda, mas também de fatores regulatórios e encargos. O destaque para a MP 1300/2025 e para o peso crescente da CDE evidencia bem como decisões políticas influenciam tarifas. Um diagnóstico preciso e atual do setor.
Arthur, muito bom o seu artigo, obrigada e parabéns.